"As estórias do vinho" por Cristina de Jesus
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“As estórias do vinho” por Cristina de Jesus

O ritual está preparado.

2Mesa posta, guardanapos de pano preto, toalha adamascada preta, talheres em assimetria, copos de tamanho considerável, leves e de vidro fino para enaltecer o vinho.
Os pratos vieram das “Rotas da Cerâmica”, mais propriamente de Caldas da Rainha, da tão conhecida Bordalo Pinheiro.
Um entrecosto no forno à alentejana,com um arroz de grelos, prato leve e de digestão fácil para enterrar uma longa semana de trabalho, é o que os amigos vão encontrar sobre a mesa. Para regar este prato temos Memória Grande Escolha, do meu amigo e enólogo Rodrigo Martins.

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O queijo chévre beija uma rodelita de tomate, que se encontra deitada numa fatia de pão alentejano, e que depois de perfumada com azeite e oregãos vai a dourar ao forno. Elegemos para começar um Quinta da Murta, um espumante intenso e exuberante, com uma bolha finíssima e bastante aromático, uma harmonia perfeita com esta entrada!

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Não podiam também faltar uns camarões com espinafres, receita herdada de uma amiga há uns anos atrás na Quinta do Soito, Terras de Óbidos e de jantares boémios. Por isso tão produtivos no debate politico/económico, filosofias e terapias, os jantares entre amigos são sempre terapêuticos. Aqui entra o Montecapucho, um Arinto e Sauvignon Blanc, um vinho elegante e fresco mas também intenso e equilibrado na boca.

A Enogastronomia é a arte de harmonizar um cardápio com vinhos!
A Enograstronomizade, inventei agora e é o expoente máximo da primeira, pois só uma mesa cheia de amigos para desfrutar de tal repasto.
Hoje somos seis à mesa. Festejamos sempre a amizade, a música dá o mote para as primeiras conversas.
O caráter de uns é a alegria de outros, desafiam-se os mais pragmáticos com conversas lunáticas, observações filosóficas, devaneios existenciais e vai mais um copo que o serão promete.
Pessoalmente gosto muito de cozinhar, mas para receber alguém, só para mim nem pensar, é quase deprimente comer sozinha à mesa.
Já em família, e lá em casa éramos cinco, as conversas depois de jantar estendiam-se pela noite dentro. Era quando os pais tinham a disponibilidade e o tempo para nos ouvirem, as três filhas. Falávamos da escola, de algum novo colega, das notícias, do programa para o fim de semana, e sim o meu pai sempre bebeu o seu copo de vinho ao jantar. Conforme fomos entrando em idade aceitável para nos relacionarmos com o álcool fomos sendo apresentadas a um ou outro vinho… Uns mais amistosos, numa primeira experiência, note-se, outros terrivelmente traumáticos…
O vinho conta-nos estórias; a comida, a mesa, o serão, a partilha, e a troca de afetos realizam momentos inesquecíveis de amizade.

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“Acabo de salvar um vinho, estava preso dentro de uma garrafa”
“Antes só vinho que mal acompanhado”
“Tome conselhos com vinho, tome as decisões com água”
“Adoro cozinhar com vinho, por vezes até o ponho na comida”

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Uma açorda alentejana,
Com um tinto maduro e de cor intensa
Pautado de gentes e cantares.
Desperta diversos paladares.

O vinho liberta a alma
Dá som à fala
Leva para longe tristezas
Pois aqui só se fizeram proezas.

O vinho dá notas de música
Passos de dança,
Enamora-se de todos
Enchendo-os de esperança!

Vêm a Joaquina e o Mestre Alfredo
Seguram na rolha com a ponta do dedo,
Cheira a madeiras, frutos secos e poejo
Só pode ser um vinho do nosso Alentejo.

 

 

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