Do Regicídio à Implantação da República em 5 de outubro de 1910
História

Do Regicídio à Implantação da República em 5 de outubro de 1910

O Regicídio tinha sido a resposta violenta à tentativa falhada de proclamar a República, no dia 28 de janeiro de 1908, pelos republicanos reunidos no elevador que ligava a Praça do Município ao Largo da Biblioteca. O resultado foi o encarceramento de algumas figuras do movimento revolucionário em curso. São férteis os exemplos de atentados às cabeças coroadas da Europa, destacando-se o atentado contra a Imperatriz Sissi, no ano 1898, enquanto passeava nas margens do lago Léman, em Genebra. A imperatriz foi apunhalada no coração com um estilete, pelo jovem anarquista italiano Luigi Lucheni. Em 1900, numa visita a Monza, o rei Umberto I seria morto, com três tiros no peito, por Bresci, um tecelão anarquista.

Com a decapitação quase por completo da família real, na fuzilaria do Terreiro do Paço, o infante sobrevivente, apenas com 19 anos, é aclamado rei, em 6 de maio de 1908, com o título de D. Manuel II.

O nosso derradeiro monarca procurou o apoio de todos os partidos monárquicos, para formar um governo de reconciliação, mais conhecido pelo governo da “acalmação”, mas mesmo assim os republicanos não desistiram de acabar com a monarquia em Portugal. Os governos de iniciativa régia sucediam-se, a instabilidade política instalava-se e o jovem monarca entendia que não devia intervir na luta pelo poder que os partidos travavam entre si, evitando assim ser fustigado pelas críticas dos seus opositores.

O diretório do partido republicano depressa compreendeu que o caminho para a revolução de outubro estava aberto, já que as romagens às campas dos regicidas, atraíam milhares de pessoas. O sentimento de que a hora da República estava próxima, fez emergir as principais figuras do movimento político republicano, apoiadas na sombra por oficiais de carreira, sargentos e respectivas tropas das suas unidades da marinha e do exército.

Nos círculos mais próximos dos ideólogos republicanos, a ideia de que os seus planos para a revolução eram do conhecimento dos monárquicos, por terem sido revelados por traidores à causa republicana, acelerou os preparativos da conjura. A noite do dia 3 de outubro estava no início; pelas 20h30m os conjurados reuniram-se pela última vez, num andar da rua da Esperança, em Santos-o-Velho.

Nessa noite, a conspiração republicana passou a ter um plano de ação com hora marcada. O plano de ação e a hora escolhida não eram consensuais, tendo o almirante Cândido dos Reis informado que o governo tinha posto alguns quartéis de prevenção.

Às dúvidas sobre o desfecho final, sobrepuseram-se as fortes convicções das principais figuras do movimento republicano. Um dos participantes desse conclave, José Relvas, escreveu nas suas memórias: «Vimos Cândido dos Reis erguer-se e pronunciar serenamente e gravemente estas palavras – “A revolução não será adiada. Sigam-me se quiserem. Havendo um só que cumpra o seu dever, esse único serei eu.” Instalou-se um silêncio sepulcral. E acrescentou ainda Cândido dos Reis –“ Para a vitória ou para a morte”. Porém, esta forte tomada de posição dos ideólogos republicanos, alicerçava-se na preciosa colaboração da Carbonária, sendo o comissário naval António Machado dos Santos, um membro da Alta Venda.

A sua ação doutrinária, junto dos marinheiros, soldados e primos nas tabernas de Alcântara, tornou-se imprescindível para o sucesso do movimento revolucionário republicano. Tinha-se feito o plano, mas não se tinha marcado a data para o executar. Um conjunto de acontecimentos alarmou os conjurados. Os seus planos de revolta estavam a ser divulgados por traidores, tendo precipitado a decisão de atuar de imediato. A data escolhida para a ação revolucionária seria a noite de 3 para 4 de outubro, decisão que mais uma vez não gerou consenso entre os revolucionários, já que temiam o ripostar das tropas monárquicas.

Na madrugada de 4 de outubro sublevaram-se os grupos revolucionários de vários quartéis. Por falta de comunicações, na maior parte dos casos a sublevação falhou. Só dois quartéis tiveram êxito: Infantaria 16 e Artilharia 1. Houve tiroteio e gerou-se grande confusão. Com o apoio de civis, barricaram-se na Rotunda.
Por volta das 5h da manhã, já só permaneciam no seu posto 100 soldados e 50 civis, com 5 canhões e algumas espingardas. Os chefes revolucionários concluíram que o golpe falhara e decidiram fugir. Cada um esgueirou-se para onde lhe pareceu melhor. Cândido dos Reis tomou o caminho de Arroios e desesperado suicidou-se. Esta morte inesperada lançou o desalento nas hostes republicanas. José Relvas e outros, receando a deserção em massa, tentaram contrariar a notícia e negar o suicídio. Se os soldados e civis julgassem Cândido dos Reis vivo, mantinham a coragem!

Apesar desta precaução, a notícia verdadeira correu e houve oficiais que desertaram da Rotunda. Só lá ficou Machado dos Santos a comandar os militares e civis que ainda assim quisessem permanecer no seu posto.


Na noite do dia 4 de outubro, dá-se um voltar de página na contenda a favor dos republicanos. Ao quartel-general monárquico não chegavam reforços vindos dos regimentos da província. Os carbonários, afinal tinham cumprido a missão de dinamitar pontes, estradas e a linha do comboio. Além disso, os cruzadores ancorados no Tejo tinham sido também tomados pelos republicanos e apontaram as baterias (canhões) aos monárquicos que se encontravam no Rossio. A marinha teve um papel vital e decisivo na vitória republicana, já que a ameaça de bombardear a cidade com os canhões que possuíam a bordo dos cruzadores S. Rafael e Adamastor, fez capitular as tropas monárquicas de Paiva Couceiro.

No dia 5 de outubro de 1910, pelas 9h da manhã, os chefes republicanos entraram na Câmara Municipal de Lisboa e em plena varanda, proclamaram a República. Os discursos foram aplaudidos por todos, sobretudo por aqueles que tinham lutado para que a revolução fosse bem sucedida.

Carlos Cruchinho

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