Community Spirit Award - Ana Bailão
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Community Spirit Award – Ana Bailão

A vice-presidente da Câmara de Toronto, Ana Bailão, foi distinguida com o Community Spirit Award, prémio atribuído anualmente pelo Centro Cultural Português de Mississauga, a individualidades que se tenham evidenciado na promoção e desenvolvimento sóciocultural da comunidade portuguesa no Canadá.

Carmo Monteiro

Revista Amar: Como recebeu a notícia de que ia ser homenageada, no dia 13 de abril, pelo Centro Cultural Português de Mississauga com o Spirit Award?
Ana Bailão: Com surpresa e fiquei muito lisonjeada. Estamos a falar de um grande clube da nossa comunidade, com pessoas que estão muito envolvidas com o clube e com a comunidade… portanto, ter este reconhecimento é importante.

R. A.: Sabia que é a primeira mulher a ter este reconhecimento, ou seja, a receber o Community Spirit Award?
A. B.: Não, não sabia… Então já era tempo (risos).

R. A.: Os movimentos feministas e os festejos à volta do Dia da Mulher tem ganho força ano após ano. Acha que, tendo em conta estes factos, que esta homenagem vem “cimentar” ainda mais o papel da mulher na nossa comunidade?
A. B.: Acho que significa que nós temos homens e mulheres que têm contribuído tanto no desenvolvimento, progresso e visiblidade da comunidade. Durante muitos anos as mulheres não apareciam tanto em “papeis” de destaque, felizmente hoje já não é assim. Hoje já se veem mulheres à frente das nossas associações, clubes, organizações, etc…. É bom que a comunidade reconheça que tanto homens como mulheres têm mérito para que os mais jovens sintam que fazem parte de uma comunidade onde pessoas chegam a cargos de destaque onde podem fazer a diferença na sociedade em que nos encontramos.

R. A.: Podemos, de uma forma generalizada, dizer que a juventude está cada vez mais afastada dos clubes e associações, a ACAPO vive em Comissão Ad Hoc por falta de candidato ou candidatos, descontentamento dentro dos clubes e das associações, etc…. O que acha que deveria ser feito para reverter este facto?
A. B.: Eu acho que temos que atrair mais a juventude e não esperar que as coisas voltem acontecer como há 20, 30 ou 40 anos atrás. Naquela altura nós tínhamos o que as pessoas necessitavam quando estavam a chegar, as associações e os clubes funcionavam como “organizações” que dava um apoio emocional para se sentirem um pouco mais perto de casa… o mundo não era o que é hoje, não tínhamos a internet ou social media como temos hoje. As pessoas precisavam sentir aquele calor humano, ensinar a cultura portuguesa os seus filhos e isso traduzia-se num grande espírito de voluntariado nas associações e nos clubes. Eu acho que, hoje em dia, quem nasce aqui não tem essa necessidade emocional, mas tem outras necessidades. Portanto, acho que isto vai ter uma evolução, que os interesses e que as pessoas que fazem parte da comunidade vão evoluindo e as associações e os clubes têm que estar de portas abertas para esta mudança e pensar que nós não podemos parar a mudança, mas que a podemos gerir e tentar perceber como é que vamos fazer as coisas de maneira diferente e não olhar para as coisas como um fracasso. Se calhar, termos 10 associações e clubes em vez de 50 não é propriamente um fracasso, porque se esses 10 responderem às necessidades que a comunidade tem hoje em dia, então a comunidade está bem. As pessoas dizem “… aí os nossos clubes estão todos a fechar… “ ou “… os clubes estão a acabar, é tudo um fracasso…”, na minha opinião se calhar não é um fracasso, se calhar é uma adaptação porque hoje a comunidade tem outros interesses. Por exemplo, há uns anos atrás não se via, como se vê agora, a comunidade a fazer tantos jantares para angariação de fundos, como para a luta contra o cancro, de milhares e milhares de dólares e isso é um papel importante! E nesses jantares vê-se muita juventude que gosta de estar envolvida neste tipo de eventos. Acho que estamos a passar por uma transição. A juventude se calhar não precisa ter uma “casa”, mas gosta de participar nos eventos com um objetivo comum.

R. A.: Faria sentido uma Casa de Portugal?
A. B.: Acho que há muito tempo que faz sentido! Acho que também há muitas pessoas na comunidade a apelar por uma Casa de Portugal. Veremos, as coisas vão evoluindo… mas o que faz realmente sentido é nós termos apoio para os nossos seniors, que continuemos a ter o ensino da língua portuguesa, organizações como a Abrigo porque temos que assistir com apoio social as pessoas que moram aqui, da mesma forma que é importantes que as casas comunitárias continuem ativas pela preservação da nossa herança cultural. Temos que nos adaptar conforme o tempo vai evoluindo. Nunca vi cá tanto interesse e orgulho pela cultura portuguesa… mas não só aqui, em Portugal também.

R. A.: Portugal está na moda?
A.B.: Completamente! E penso que isso se vai refletir na nossa comunidade… os jovens vão vir à procura e querer conhecer as suas raízes e nessa altura temos que estar preparados e já ter criado as condições para os receber e para os atrair a participar connosco na comunidade, mas não só na nossa comunidade! Eu sempre fui apologista de que devemos fazer coisas por nós, pela nossa comunidade mas que devemos também partilhar com as outras comunidades porque nós temos uma cultural maravilhosa e é um desperdício não a partilhar. A promoção da nossa cultural não deve ser feita só para os jovens da comunidade portuguesa mas sim para todos os jovens, e convidá-los a vir ver o que de bom a nossa comunidade tem para oferecer. Hoje em dia os nossos jovens casam com pessoas de outras culturas e nós temos que fazer com que essas pessoas se sintam bem entre nós, sentirem-se em casa, um sítio onde se podem sentir orgulhosos da sua própria cultura e partilhar connosco e isto são fatores também muito importantes.

R. A.: Com uma rede social muito ativa, a Ana tem partilhado todas as suas conquistas no que toca a assuntos camarários em que está envolvida, com principal destaque na área da habitação.
A. B.: É assim, eu entrei para a política porque queria fazer a diferença. Quando cheguei cá, com apenas 15 anos, vi que era um país de oportunidades e percebi que se trabalhássemos, teríamos a oportunidade de termos uma vida boa e de darmos uma vida boa às nossas famílias e da maneira que a sociedade está a evoluir, acho que isso está em risco e, acho que a habitação tem um muito a ver com isso, porque se uma família não tem uma habitação acessível, depois de a pagar ainda tem que ter dinheiro para pagar a alimentação, transportes, etc.. Se uma família não tem um sítio para onde possa ir ao fim de um dia de trabalho, onde vai ajudar os filhos ou onde vai planear o futuro para que possa progredir na vida … isto tira a tal oportunidade das pessoas. Uma casa é a base da tranquilidade duma família, é a base que dá a força para que possamos ter mais sucesso. Se nós queremos viver numa cidade de oportunidades, onde as pessoas se possam focar nas suas famílias e no seu trabalho, nós temos que tratar deste assunto. Toronto está a ficar uma cidade extremamente cara, como está a acontecer com outas grandes cidades do mundo, mas é um assunto com que temos de lidar e temos que ser frontais, e não é um assunto só a nível camarário, a câmara de Toronto não pode resolver isto sozinha, porque a habitação toca nos três níveis do governo, como por exemplo, nós não controlamos as taxas de juro. Contudo a câmara de Toronto tem uma responsabilidade acrescida porque tem a responsabilidade do planeamento urbano e isso obviamente tem um foco muito importante na qualidade e na localização onde as habitações vão ser colocadas e como vamos fazer os tipos de habitação onde as pessoas vão morar, é portanto uma área à qual me tenho dedicado muito porque quero viver numa cidade com oportunidades, que não seja dividida a nível das classes sociais como vemos muitas vezes pelo mundo, que ou são muito ricos ou são muito pobres, claro que haverá sempre alguma desigualdade, mas eu quero mais igualdade. Acho que estamos a perder a igualdade e isso dá-me muito medo, mas ao mesmo tempo dá-me muito força para trabalhar.

R. A.: Quais foram, na sua opinião, os fatores que levaram o presidente da câmara de Toronto, John Tory a voltar a renomea-la para vice-presidente da câmara?
A.B.: Penso que foram 2 fatores. Em primeiro a colaboração foi reconhecida, ou seja, que trabalhamos bem em conjunto, no que diz respeito à minha pessoa eu consigo trabalhar com todos os colegas vereadores e o presidente aprecia isso e aprecia pessoas que arregação as mangas e que querem trabalhar, o que leva, penso eu, ao segundo fator o reconhecimento da importância de resolver os assuntos em volta da habitação. O presidente da câmara sempre disse que queria melhorar o trânsito e a habitação.

R. A.: Que balanço faz desde que foi reeleita, uma vez que este mandato começou de forma diferente, menos vereadores e menos áreas mas maiores?
A.B.: Ainda estamos a viver a adaptação, nós começámos este mandato oficialmenteno dia 01 de dezembro, ou seja há pouco mais de 4 meses. Tivemos que aumentar o número de acessores mas claro que isso não foi feito imediato, tivemos que ter reuniões e aprovação e, nesses primeiros meses andávamos todos um pouquinho aflitos porque as pessoas telefonavam para os vereadores e nós não tínhamos a mão de obra para poder corresponder ou dar despacho aos pedidos. Agora a situação já está um pouco melhor, porém diferente do que era porque com o estas mudanças temos mais trabalho. Por exemplo tenho 13 associações de comerciantes (BIA), associações de moradores, os projetos, etc. e é fisicamente impossível estar presente em todas às reuniões mensais e daí a necessidade de ter acessores para que me representem em algumas dessas reuniões, principalmente em dias em que são 2 e 3 à mesma hora. É complicado, porque eu estava habituada a ir a todas as reuniões e agora é difícil para mim ir e custa-me muito não estar presente. Tenho que me habituar a esta nova realidade, mas custa-me habituar porque não gosto dela e sinto-me desconfortável… é uma questão de adaptação, mas fisicamente é desgastante, temos os dias completamente cheios. Se por um lado as reuniões da assembleia são mais curtas devido à redução de vereadores, por outro lado as reuniões da comissão são mais demoradas e o trabalho é a dobrar, só eu sou presidente de 2 comissões, da habitação e do planeamento urbano, que antes eram separadas.

R. A.: O que espera do dia 13 de abril?
A. B.: Espero uma noite com a minha gente, onde me vou sentir lisonjeada com as pessoas ao meu lado que se vão sentir parte desta homenagem. Eu estou na área da política e nesta área não conseguimos chegar a lado nenhum sozinhos, há muitas pessoas por tráz de mim. Nesse dia vou querer agradecer e dar o reconhecimento a essas pessoas. Eu sempre reconheci isso e irei reconhecer sempre, e no dia em que eu não o fizer, será o dia em que eu mais do que ser má política, serei má pessoa.

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