Encontros com o Património: O Cante Alentejano à mesa
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Encontros com o Património: O Cante Alentejano à mesa

Após uma breve pesquisa sobre o Cante Alentejano encontrei uma síntese no dossier de Candidatura do Cante Alentejano a Património Imaterial da Humanidade enviado à UNESCO. Logo o Cante ou “O Canto às Vozes é um canto coletivo, sem recurso a instrumentos, que incorpora música e poesia, associado geograficamente à Região Histórica do Baixo Alentejo. É um canto que se caracteriza por uma diafonia. É interpretado sem diferença de género ou de perfil demográfico e social.

Nas primeiras décadas do século XX, partindo do movimento orfeónico nacional, estruturam-se os ranchos corais alentejanos, hoje encarados como legítimos representantes desta prática performativa, no campo formal e institucional. Muitas vezes associado às classes rurais, importa entender esta prática como produto de uma região onde a industrialização agrícola e de extração mineira produziu classes trabalhadoras prato-industrializadas e industrializadas.

Entendemos este pedido de inventariação do Canto às Vozes enquanto prática e não enquanto especificidade do movimento coral do Baixo Alentejo. O Canto às Vozes, enquanto género, é uma prática musical e poética que se caracteriza por um canto em diafonia. É formado por um coro, sem instrumentos, de homens, de mulheres ou misto, ou ainda de crianças, misto ou não, que canta estruturas poéticas denominadas localmente por «modas».
As «modas» são estruturas poéticas de diversa arquitetura que, no Canto às Vozes, são interpretadas de forma interpolada com quartetos oriundos da tradição ou da produção de poetas populares, assim como poesia mínima que circula popularmente. Esta lírica mínima é denominada por «versos», «letras» ou «cantigas». «Versos» e «moda» são, pelos cantadores, denominados por «moda».

O formato de interpretação possui um cânone: um solista inicia, denominado por «ponto», e canta um quarteto, a «cantiga»; quando este termina, um outro o substituí, denominado por «alto», que inicia a parte da «moda» propriamente dita, cantando um verso desta, após o qual todo o coro se lhe junta.

A denominação antiga, e usual, era Canto às Vozes. Ao longo do século XX, foi sendo substituída por Cante Alentejano. A denominação Canto às Vozes surge de uma oposição a descante, ou descanto, que incluía todos os géneros coreográficos ou com instrumentos, em particular com acompanhamento de viola de arames, também denominada por viola «campaniça», que já assim é denominada na segunda década do século XX. Durante décadas foi alimentada uma diferença rítmica entre o Canto às Vozes entre a margem esquerda e direita do Guadiana. A dissertação em Ciências Musicais de Jorge Miguel Cecília Moniz (2007), comparando os repertórios de Cuba e Pias, veio mostrar a inexistência de diferenças.(…)”

Gastronomia

Nesta jornada pelo Baixo Alentejo e sendo horas de almoço, nada melhor que escolher algo típico e calmo da região para retemperar forças, a Adega Velha em Mourão. Uma sugestão do chef seria para entradas um pão alentejano com azeitonas, queijo da região e outros petiscos. Como prato principal servido em tachos de barro ainda a fumegar, se optar por peixe uma sopa de cação, acompanhada pelo pão alentejano, o qual poderá molhar na sopa. Na carne opte entre o cozido de grão, uma sopa de panela, um feijão com chouriço ou um lombo de porco preto assado no forno. Tudo regado a vinho de talha de produção própria, há mais de um século. Para sobremesa delicie-se com uma encharcada, um bolo rançoso ou um manjar real.

Boa comida e boa bebida, o vinho de talha, apreciada pelos portugueses e por todos aqueles que escolhem o Alentejo para uma estadia inesquecível. A Adega Velha serve todas estas iguarias acompanhada pelo Cante Alentejano, marca identitária desta terra dourada. Se a poesia popular está presente no Cante ou no Canto às Vozes. Nada mais autêntico do que o Hino dos Mineiros de Aljustrel para exemplificar a ligação telúrica do Cante a todo este Alentejo deste mundo.


Hino aos Mineiros

Nas minas de São João
Lá.lá,lálá,lá,lá,lá
Morreram quatro mineiros
Vê lá, vê lá companheiro
vê lá. vê lá, como venho eu
Lá.lá,lálá,lá,lá,lá
Lá.lá,lálá,lá,lá,lá
Morreram quatro mineiros
Vê lá, vê lá companheiro
vê lá. vê lá, como venho eu
Lá.lá,lálá,lá,lá,lá
Lá.lá,lálá,lá,lá,lá

Eu traga a cabeça aberta
Lá.lá,lálá,lá,lá,lá
que me abriu uma barrena
Vê lá, vê lá companheiro
vê lá. vê lá, como venho eu
Lá.lá,lálá,lá,lá,lá
Lá.lá,lálá,lá,lá,lá
que me abriu uma barrena
Vê lá, vê lá companheiro
vê lá. vê lá, como venho eu
Lá.lá,lálá,lá,lá,lá
Lá.lá,lálá,lá,lá,lá

Eu trago a camisa rota
Lá.lá,lálá,lá,lá,lá
E sangue dum camarada
Vê lá, vê lá companheiro
vê lá. vê lá, como venho eu
Lá.lá,lálá,lá,lá,lá
Lá.lá,lálá,lá,lá,lá
E sangue dum camarada
Vê lá, vê lá companheiro
vê lá. vê lá, como venho eu
Lá.lá,lálá,lá,lá,lá
Lá.lá,lálá,lá,lá,lá

Ó Senhora Santa Bárbara
Lá.lá,lálá,lá,lá,lá
Padroeira dos mineiros
Vê lá, vê lá companheiro
vê lá. vê lá, como venho eu
Lá.lá,lálá,lá,lá,lá
Lá.lá,lálá,lá,lá,lá
Padroeira dos mineiros
Vê lá, vê lá companheiro
vê lá.vê lá, como venho eu
Lá.lá,lálá,lá,lá,lá
Lá.lá,lálá,lá,lá,lá


Carlos Cruchinho

Licenciado no ensino da História e Ciências Sociais

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