Rumos de vida
Psicologia

Rumos de vida

Não se pode afirmar que as pessoas vivam apenas em razão da alternância entre prazer e desprazer presentes cotidianamente. O ser humano não é uma máquina que se submete mecanicamente aos estímulos que lhe chegam qual um painel de botões que pode ser acionado, e pronto. A coisa não funciona assim, ela é mais complexa. Percebe-se, contudo, que o que está por trás de cada movimento empreendido pelo homem, do simples ao sofisticado, diz respeito à satisfação e insatisfação. Desde o despercebido ato respiratório até o desejo consciente de manter-se evoluindo espiritualmente, os passos dados em cada direção são fruto ora da fuga ao desagrado, ora da busca pelo agrado.

Então, ainda que de forma indireta, o prazer e o desprazer não arredam o pé das decisões que afetam o destino de cada um. Ou seja, eles podem não agir diretamente e até se manterem escondidos no psiquismo, mas, no fundo, dão as cartas na maioria das vezes, causando impactos de origem tanto consciente quanto inconsciente. Há momentos em que sequer se sabe de onde se originou uma dada decisão, gerando surpresa e estranhamento. Porquanto a vida nos faz transitar por estradas asfaltadas e bem conhecidas, e, por vezes, nos leva a picadas tão esquisitas que até Deus duvida.

Logo, é devido considerar que certas mudanças significativas na nossa maneira de viver podem se relacionar a dois fatores: alteração da perspetiva e retomada da perspetiva anterior. No primeiro caso, sofre-se uma mutação na maneira de se enxergar o mundo e então a vida é direcionada a novos horizontes favoráveis ou não. Perder o emprego ou separar-se da pessoa de convívio, por exemplo, pode ser interpretado como algo insuperável e ilimitadamente triste, ou ser experimentado de forma dolorosa, mas superável, e, inclusive, percebido qual uma brecha de rica oportunidade que se abre. Porém, em ambos os casos, o modo de encarar a vida muda numa sequência inovadora. Nova camiseta é usada no lugar da anterior, que, agora, faz parte apenas do passado.

No segundo caso, não ocorre tal continuação inovadora, é possível que a pessoa resgate o seu antigo jeito de enxergar o mundo. Por razões íntimas, suprimiu-se uma perspetiva e apostou-se noutra, e através desta última caminhou-se convenientemente até esbarrar na sua frustrante insuficiência. Ao invés de inovar mais largamente, reassumimos comodamente uma posição anterior – ainda que esta, suscetível a mudanças também, esteja um pouco diferente daquilo que fora um dia. A velha e ainda mais desbotada camiseta, guardada no fundo da gaveta, volta a ser vestida no presente, no lugar da outra que lhe sucedeu um dia.

Assim, o motor da vida, avançando mais ou menos, às claras ou não, demonstra funcionar por causa do prazer e desprazer relacionados ao que se percebe particularmente do mundo e o que dele se consegue extrair mediante as necessidades e desejos existentes. Portanto, a quem não enxerga tais situações, recomenda-se a necessária reflexão, a fim de ampliar a visão acerca do cenário pessoal e tomar o controle sobre si cada vez mais, além de dar direcionamento mais planejado à vida e possibilidade de colher resultados mais personalizados e menos submissos à sorte.

Armando Correa de Siqueira Neto

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