À conversa com Stella Jurgen
Entrevistas

À conversa com Stella Jurgen

“I am a colourful palette with an enormous enthusiasm to share my art and passion for creativity. I am thankful that I have been kissed by talent and I feel excited to indulge my free spirit to express it in many platforms.”

Stella

Em outubro vamos descobrir uma artista que nasceu em Buenos Aires na Argentina, filha de pai português e mãe italiana. O seu talento desenvolveu-se naturalmente na música e no campo das artes desde jovem.

Além do projeto musical ‘teen pop’ entítulado ‘Stella & Mar’ que desenvolveu com sua irmã em Portugal, sempre teve uma paixão pelas artes.

Teve a primeira abordagem na Universidade de Belas-Artes em Lisboa, antes de imigrar para o Canadá, onde acabaria por se formar em Design Comercial pela George Brown College, em Toronto.

É a fundadora e diretora criativa da empresa 17 Designs, empresa de design gráfico, criação de websites e marketing a celebrar 20 anos no mercado. A 17 Designs ganhou o prémio de reconhecimento ‘Mississauga Business Enterprise Centre Emerging’ em 2001, servindo uma grande variedade de empresas no GTA e nas regiões de Peel, Halton e outras.

Confessa que adora pintar e realizou a sua a sua primeira exposição em 2015, na Galeria Alberto Castro, em Toronto, intitulada ‘Being Woman’, evento para apoiar o Abrigo Centre e as mulheres e crianças vítimas de violência doméstica. Em 2017 participou na exposição ‘Refelections’ que teve lugar no Consulado Português em Toronto e foi, também, convidade a pintar uma coleção de seis quadros e desenhar cinco esculturas para os condomínios Perspective, em Etobicoke, com o lema ‘Natural Perspective’.

Gosta de desenhar roupa e produzir peças de utilização diária, como por exemplo, carteiras e outros acessórios, tendo tido a oportunidade de expor os seus trabalhos no show de moda ‘Circle of Friends’ organizado pela Breast Cancer Foundation.

Os seus trabalhos foram publicados na revista ‘Art Bites’ que é produzida pela Art of The Credit, tendo exposto na ‘Artworld Fine Arts Gallery’.

A sua criação valeu-lhe o terceiro lugar na competição de desenho gráfico para carteiras e calçado ‘Walk with Art’ que teve lugar em Viseu, Portugal.

Foi nomeada este ano para o prestigiado prémio ‘Waterfront Awards’, prémio que pretende destacar o trabalho notório de mulheres na área de Arte & Cultura.

A sua última coleção chama-se ‘Kissed’ e está em exposição desde o dia 28 de setembro na The Peäch Gallery em Toronto, incluindo pinturas, ilustrações e trabalho em têxtil.

A Revista Amar marcou presença e esteve à conversa com a multifacetada e talentosa Stella Jurgen.

Revista Amar: Quem é a Stella Jurgen?
Stella Jurgen: A Stella é uma artista, que desde muito pequena gostava de desenhar e de música. O meu pai é português, de Ovar e a minha mãe é italiana, de Bari. Tenho uma irmã e ambas nascemos na Argentina. Os meus pais decidiram-se mudar para Portugal quando eu tinha 9 anos e estivemos lá 10 anos. Quando entrei na Universidade de Belas Artes em Lisboa, em 1985, os meus pais voltaram a imigrar e começámos a nossa vida aqui, no Canadá. Como infelizmente não pode acabar a Universidade em Portugal, aqui entrei na George Brown College e tirei o curso de Desenho Gráfico. Desde que me especializei é o que tenho feito na minha vida até agora, mas a Arte está cá dentro, sempre comigo. Cada trabalho que faço tem uma ilustração, uma fotografia, qualquer coisa feita por mim. Sou casada há 29 anos e tenho 1 filho.

R.A.: O que levou os seus pais a mudarem-se para Portugal e como foi a adaptação?
S.J.: O meu pai foi sempre muito tradicional e as suas raízes sempre o puxaram para Portugal e porque o nível de vida era melhor. Quando chegámos ele levou-nos a conhecer as praias e as cidades e nós adorámos. Porém não foi fácil no princípio porque não falavamos português, mas depois na escola aprendemos,e porque deixámos os amigos e a família toda na Argentina… fomos só os 4 para Portugal.

R.A.: E como foi a adaptação quando chegou ao Canadá?
S.J.: Custou-me muito. Foi muito difícil, tudo porque tinha acabado de entrar na Universidade e estava a adorar. Só depois de 2 anos é que comecei adaptar-me.

R.A.: Nasceu e cresceu na Argentina, filha de pai português e mãe italiana. Como é crescer num ambiente de tanta riqueza cultural e tradicional?
S.J.: Sabe, é isso que fez de mim quem eu sou hoje. A cultura que tenho é tão diversificada, colorida, graciosa… eu adoro ter esta cultura toda que me faz tão rica como pessoa. Falo português, espanhol, um pouco de italiano, inglês e francês.

R.A.: Das duas tradições, portuguesa e italiana, com qual se identifica mais a sua arte?
S.J.: Eu penso que é mais com a portuguesa, porque tive a oportunidade de morar 10 anos em Portugal na transição da infância para a adolescência. A minha arte é a refleção das minhas experiências.

R.A.: Se pudesse escolher um país para morar, entre Portugal, Argentina e Itália, qual escolheria e porquê?
S.J.: Portugal, porque a minha irmã e os meus pais vivem lá. Eles voltaram e como já tinha casado, fiquei… mas agradeço todas as oportunidades que tenho tido neste país. O Canadá tem-me dado a oportunidade de fazer as coisas que eu adoro, mas para viver nada se compara a Portugal, ao sol, às praias, à gastronomia, etc.. Aliás a gastronomia esteve representada numa exposição que fiz, chamada Refleções, no ano passado no Consulado Português.

R.A.: É em Portugal que “nasce” o duo Stella & Marcela. De onde surge a música e conte-nos dessa experiência.
S.J.: O meu pai sempre nos incentivou, a mim e à minha irmã Marcela a cantar e até aprendemos a tocar guitarra ainda na Argentina, mas tudo não passou de uma casualidade. Um dia o meu pai levou-nos, a mim e à minha irmã Marcela, à Rádio Renascença, mas não tínhamos uma entrevista marcada. À porta começámos a tocar guitarra e a cantar em espanhol, até que alguém que passou pela porta sugeriu uma entrevista com o António Sala. O meu pai entrou, falou com ele e ouviram-nos a cantar. Foi assim que tudo começou. O António Sala foi o nosso “padrinho” musical e foi ele também quem escreveu a canção “Cão e Gato” e logo fizemos o 1º disco , no total gravámos 4 discos.

R.A.: A carreira da Stella & Marcela ficou-se por Portugal?
S.J.: Não no imediato. Quando chegámos tivemos um programa de rádio, quase 2 anos, que se chamava “Era uma vez” no CKMW em Brampton, que gostámos muito de fazer porque havia a interação com as crianças, mas quando sai da George Brown e comecei a trabalhar mudou tudo… depois apaixonei-me, casei e a música ficou na parteleira durante algum tempo. Agora canto outra vez.

R.A.: Pode-se dizer que foram um sucesso?
S.J.: Sim, fomos. Nós fizemos tournées com a Rádio Renascença, participámos em programas na TV, cantámos com o José Cid, Branca de Flor, Camané, etc… tantos outros com quem adorámos partilhar esta experiência.

R.A.: Esta experiência também se reflete nas suas obras?
S.J.: Claro que sim! Está tudo interligado. A minha inspiração vem das canções, dos poemas, da música, da emoção que uma pessoa sente quando ouve música e é por isso que estou sempre a ouvir música quando estou a pintar… eu dou uma pincelada para aqui e outra para ali, para mim as pinceladas são como as notas musicais, umas pequenas outras maiores, outras mais altas outras mais baixas e as cores são como os instrumentos numa orquestra, o azul pode ser um trompete, o vermelho um piano… quando penso em música penso em arte ao mesmo tempo.

R.A.: Lançou recentemente um trabalho musical novo. Porquê em português?
S.J.: É verdade. “Vontade de viver” é o título desse single. E porque não em português? Porque é a minha língua e sei escrever português… eu escrevo letras mais bonitas em português do que em inglês, sinto-me mais confortável quando escrevo em português. Esta letra foi escrita com a minha irmã há 30 anos, ainda estávamos em Portugal. Recentemente foi ver as canções que tenho e encontrei esta, falei com a Marcela que podia fazer algo com ela e assim ajudar o Abrigo Centre. Fiz a composição musical, contratei os músicos e fizemos um vídeo, quando estávamos de férias em Portugal, com a ajuda do meu filho que filmou em Lagos, Alvor e Monchique. Tem a participação de alguns amigos meus que estão na Argentina e daqui.

R.A.: Quer dizer que tem um filho com “veia artística”?
S.J.: Tenho. Eu costumo dizer que ele é igualzinho ao pai, mas na parte artística sai à mãe (risos). No ano passado ele fez a sua 1ª exposição fotográfica no Consulado Geral de Portugal aqui em Toronto. Neste momento ele está no último ano do curso de Engenharia Mecânica na Universidade em Thunder Bay. Ele adora robótica, ele faz tudo, desenha, manda imprimir em 3D e constrói.

R.A.: A Stella é muito generosa. Tem doado muitos quadros e parte das receitas da venda de quadros para instituições sem fins lucrativos, como, por exemplo, o Abigo Centre. Para a Breast Cancer Fundation foi mais longe, fez uma coleção de roupas. Como surgiu esta oportunidade?
S.J.: No ano passado após uma entrevista com a Clara Abreu ela apresentou-me à Ângela Machado, que me convidou para participar no Círculo das Amigas. Depois de pensar como poderia colaborar, cheguei à conclusão que se calhar os quadros não seria a melhor opção para esse evento e sugeri à Ângela um desfile de moda que gostou da ideia, depois fiz os desenhos todos relacionados com o tema Breast Cancer. Eu desenhei calças, lenços, malas etc.. As peças que sobraram estão agora à venda na Eva´s Fashion Boutique, em Saint Jacobs. Gostei muito da experiência.

R.A.: A Stella participou num concurso para estampar sapatilhas. Como ficou a saber deste concurso e como correu?
S.J.: Há uns 2 anos estava no Facebook a ver na página da Walk With Art as sapatilhas com os azuleijos do Rossio de Viseu e outras artes estampadas e achei interessante. Eu contactei a companhia em Viseu e perguntei se eles gostavam de ter desenhos meus nas sapatilhas, pois eu tenho muitos Urban Scatches do Estorial, Lisboa, Cascais, dos Açores, etc., depois de verem o meu trabalho, de que gostaram, mostraram interesse porém não estavam em produção, contudo eles estavam a trabalhar num concurso e que se eu quisesse eles me mandariam a informação quando abrissem as incrições. Eu fiquei muito contente quando recebi o email para participar no concurso, fiz o desenho “Folclore e o Amor” e enviei para eles. Um mês e pouco depois recebi a notícia que tinha ganho o 3° lugar. Recebi as sapatilhas com o meu desenho estampado. A minha irmã e a minha mãe compraram gostaram tanto que compraram.

R.A.: Falemos das suas coleções e obras. Quem conhece o seu trabalho, sabe que as coleções variam muito. Umas vezes temos a natureza, noutras abstratos, depois aparece a gastronomia,etc. e agora temos “Kissed”. O que é que inspira a Stella antes de começar uma nova coleção?
S.J.: A vontade de sempre ser diferente, de mostrar que posso mais. Eu sou muito imaginativa e ponho isso na tela, nos tecidos, em tudo. Em relação a esta coleção… o meu marido e eu gostamos muito de viajar, e numa destas viagens fomos a Viena na Áustria, onde vimos o quadro “The Kiss” de Gustav Klimt. Quando estava à frente do quadro quase que morri de tão mágico que é, eu vi-me dentro do quadro. Eu fiz a minha interpretação numa ilustração e depois comecei a pensar o que eu poderia fazer para que as pessoas se sentissem assim. Foi assim que nasceu esta coleção.

R.A.: O que lhe dá mais gosto pintar?
S.J.: Tudo é excitante. Cada quadro é uma ideia nova e gosto de olhar para uma tela em branco e descobrir o que posso fazer com ela e a partir daí as ideias começam a fluir.

R.A.: Que tipo de música ouve quando está a pintar?
S.J.: Gosto muito de Jazz. Gosto de pintar ao som do Jazz. Há duas cantoras de que gosto muito, a Emilie-Claire Barlow e a Diana Panton. Elas são sempre uma inspiração com as suas notas musicais e como cantam.

R.A.: Já pensou alguma vez pintar ao som de Fado?
S.J.: Na verdade ainda não, mas aí está uma ideia… Obrigada, vou tentar!

R.A.: Quantos quadros têm as suas coleções?
S.J.: Isso depende. Tenho coleções pequenas de 4 quadros e as maiores são de 10. Esta coleção é de 8 quadros “Kissed”, 29 ilustrações “Mixed Media” e um painel em tecido com 13 metros de comprimento, que é uma junção dos quadros e das ilustrações.

R.A.: Com que tintas prefere trabalhar?
S.J.: Eu gosto de trabalhar com todo tipo de tintas, mas não misturo tintas durante uma coleção, a que escolher no primeiro quadro vai até ao último.

R.A.: Acontecem enganos quando se está a pintar?
S.J.: Não há enganos (risos)… Quando uma pincelada não sai como se pretende, deve-se ver isso como uma coisa que não se estava à espera. Nem tudo tem que ser calculado quando se fala de arte, para isso tiramos uma fotografia.

R.A.: Como apareceu a oportunidade de expôr a coleção “Kissed”, durante o mês de outubro, na The Peäch Gallery, situada na 722 College St., em Toronto?
S.J.: Eu conheci o Sr. Manuel DaCosta no Abrigo Centre. Nessa ocasião comprou algumas das minhas obras para ajudar a Abrigo e perguntou-me porque é que eu não fazia uma exposição na The Peäch Gallery, na altura não tinha uma coleção para apresentar, mas depois, em junho, vim cá para fazer a exposição com outros artistas do Walk Of Fame e nessa altura em conversa com o Vince Nigro, a quem estou também muito agradecida, falámos em eu fazer uma exposição sozinha. Esta exposição é a realização de um sonho.

R.A.: Tem alguma surpresa para a abertura da exposição?
S.J.: Sim, tenho. Vou cantar e vou estar acompanha pela minha banda, Jazz Plasma.
R.A.: Acha que a sua arte teria o mesmo sucesso em Portugal?
S.J.: Eu acredito que o sucesso está connosco, ou seja, pela pessoa que somos, como fazemos a promoção,divulgação do nosso trabalho. Para mim, não acho que haja um país que seja melhor para o nosso trabalho, somos nós que fazemos o nosso sucesso não importa onde estamos.

R.A.: Tem recebido apoio da comunidade portuguesa e de que género?
S.J.: Sim, até bastante. Tive o apoio do Consulado Geral de Portugal de Toronto, da media da nossa comunidade – fui entrevistada pela Clara Abreu (Nós Portugueses), pela Nellie Pedro (Gente da Nossa), pela Fátima Martins (Chin Radio) e na FP-TV. Eu agradeço a todos os portugueses e à comunidade por esse apoio.

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