Carlos Fernandes
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Carlos Fernandes

A fotografia como arte II - 2ª Temporada

Carlos Fernandes (“born” 1979). Atualmente (2020, com início em 2012), trabalha na produção e direção de cena do Teatro Viriato, depois de ter trabalhado na produção gráfica, bilheteira e apoio à construção cénica e exposições da ACERT (Associação Cultural e Recreativa de Tondela – de 2006 a 2011). Antes disso trabalhou na Galiza para a Crearte e Fundácion Caixa Galiza na elaboração de programas didático-educativos para as exposições de arte da Fundação e outros polos expositivos (entre 2005 e 2006). Carteiro durante duas semanas e empregado de mesa/chefe de sala durante 15 anos. Terminou o curso de Artes Plásticas na ESAD das Caldas da Rainha em 2005 e desde então mantém a sua paixão pela fotografia.

Revista Amar - Teatro Viriato - Carlos Fernandes

 

 

Revista Amar: Recorda-se como começou a sua paixão pela fotografia?
Carlos Fernandes: Recordo-me sim. Foi quando pela primeira vez desfolhei alguns álbuns de fotografias antigos dos meus avós e pais e quando peguei numa máquina fotográfica Canon FT que era dos meus padrinhos. Ou seja, há já muito tempo.

RA: O percurso na fotografia teve início como autodidata, ou à medida que o tempo foi passando, obter “aquelas” fotografias exigiu um estudo aprofundado da técnica.
CF: O meu percurso pela fotografia iniciou-se aquando dos meus estudos superiores. Em 2000 iniciei uma licenciatura em Artes Plásticas na ESAD das Caldas da Rainha e desenvolvi o meu trabalho quase sempre em torno da fotografia. Tendo adquirido algumas ferramentas e técnicas para desenvolver o meu trabalho com a fotografia, contudo, sinto que fui sempre aprendendo mais e melhor com o ato de fotografar e com a repetição desse ato. Estamos sempre a aprender.

RA: O seu olhar sobre a realidade fica diferente através de uma objetiva? E esse olhar mudou com o decorrer do tempo?
CF: Posso dizer que sim. Contudo, creio que no tempo em que ainda se usava rolos fotográficos, a atenção, a perceção das coisas, através da máquina fotográfica, era mais intrínseca, e tornava o meu olhar, em relação à realidade, mais aberto e suscetível à mudança. Digo isto porque a expectativa de “revelar” o resultado final do ato fotográfico era mais mágico e intrigante. Mas, posso afirmar na mesma, que com o decorrer do tempo, e com as novas tecnologias na área da fotografia, o meu olhar continua a mudar.

Revista Amar - Fotografia - Carlos Fernandes (4)
Créditos @ Carlos Fernandes
Revista Amar - Fotografia - Carlos Fernandes (3)
Créditos @ Carlos Fernandes

 

RA: Como acontece com o impulso de escrever, pintar, desenhar ou esculpir… Fotografar passa a ser uma necessidade, ou surge como um meio de auto expressão pessoal e social?
CF: Posso afirmar que é um misto dos três. Digo isto, porque se passo algum tempo sem fotografar, o “bichinho” começa a morder e surge a necessidade de fotografar. Em relação às outras duas premissas, como a fotografia faz parte do meu dia a dia na área das artes performáticas, acaba por estar inerente a necessidade de ser um meio de expressão pessoal, social e comunicante.

RA: Em que medida a fotografia pode ser encarada como transgressão, como arte ou como mensagem subliminar de uma sociedade?
CF: É uma boa questão. No meu ver, creio que depende da sensibilidade do fotógrafo e da finalidade do seu trabalho. Teremos que abordar sempre essa finalidade. Por exemplo, um fotógrafo jornalístico, será que por vezes não transgride os limites para atingir um fim, só porque o seu objetivo é atingir a imagem perfeita para comunicar? Ou será que sem ele arriscar essa transgressão, nós leitores, público, gente, não teremos acesso a uma imagem que ilustre de facto o que ele estava a querer transmitir e que o resultado dessa imagem no possa fazer indagar, questionar ou criticar o motivo da imagem, do resultado final que o fotógrafo nos oferece?
Quem diz fotojornalismo, diz nas artes ou nas mensagens subliminares a que referes. Creio que passa sempre pelo respeito que o fotógrafo demonstre pelo outro, pelo seu semelhante. Às vezes sentimos a necessidade de “transgredir” para atingir um fim. É preciso saber a melhor forma de o fazer sem prejuízo do outro.

RA: É difícil captar/obter uma boa fotografia?
CF: Hoje em dia, creio que a tecnologia ajuda. Nem que seja pela possibilidade de se poder “disparar” a máquina um quanto número de vezes, de uma só vez e ter acesso visual ao resultado logo no momento para tomar uma decisão em relação à qualidade da fotografia que se tirou. Mas… mesmo assim, com as ajudas todas, hoje em dia, ainda não é fácil tirar uma boa fotografia, ou, aquela fotografia.

RA: Uma boa fotografia interpela?
CF: Se não o faz é porque não é boa.

Revista Amar - Fotografia - Carlos Fernandes (1)
Créditos @ Carlos Fernandes
Revista Amar - Fotografia - Carlos Fernandes (2)
Créditos @ Carlos Fernandes

 

RA: A fotografia tem género? Podemos falar de igualdade de género quando fotografamos a realidade quotidiana. Ou há algo transformador no olhar do fotógrafo quando atrás da objetiva está uma mulher ou um homem?
CF: Não creio que tenha género. Conheço trabalhos de fotógrafos dos dois géneros e todos com as suas valias e qualidade. Agora há fotógrafos que se “aproveitam” do seu género para desenvolver um trabalho específico. Como por exemplo o trabalho da Cindy Sherman.

RA: A fotografia faz sonhar… É um instante irrepetível?
CF: Há fotografias e trabalhos fotográficos que fazem sonhar e instantes irrepetíveis! Como, por exemplo, os trabalhos de Henri Cartier Bresson, Sebastião Salgado, Annie” Leibovitz, Erwin Wurm, entre outros.

RA: Ao percorrer as ruas para fotografar a vida quotidiana em espaços públicos, na chamada fotografia de rua, em que medida essa fotografia é uma invasão da privacidade das pessoas anónimas.
CF: Voltamos à questão do respeito por parte do fotógrafo e da sua sensibilidade quando fotografa na rua. Sou suspeito, mas na minha opinião não é uma invasão da privacidade da pessoa. Hoje em dia, as redes sociais são mais invasivas do que um fotógrafo de rua.

RA: A fotografia é uma espécie de solidão… Ou pelo contrário a fotografia pretende evidenciar o desconhecido aos olhos dos cidadãos comuns.
CF: Nunca uma espécie de solidão. Temos sempre o “objeto”, pessoa, momento e espaço envolvente, do que estamos a fotografar. Há uma cumplicidade inerente, independentemente da situação que se esteja a fotografar. Coloca-se assim a questão, que se a fotografia for uma boa fotografia, ou um conjunto de boas fotografias, elas terão sempre a premissa de mostrar algo diferente ao cidadão comum e fazê-lo interpelar.

Carlos Cruchinho

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