Futebol e Fé na Mesa
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Futebol e Fé na Mesa

 

A Revista Amar esteve com o chefe Luís Lavrador na apresentação do seu livro “Ao sabor da Bíblia”, na aldeia do Seixo de Mira, Portugal. O conceituado chefe e cozinheiro da seleção nacional de futebol, contou com a presença de Fernando Santos, o selecionador nacional o homem que comandou a seleção na vitória do Campeonato Europeu de 2016 na apresentação do livro. A Revista Amar numa mistura de fé, futebol e cozinha, falou com estes dois grandes nomes da cozinha e futebol de Portugal.

 

 

Revista Amar – Fernando Santos como avalia o livro do seu amigo chefe Lavrador?
Fernando Santos – O livro é excelente. Muito interessante nesta ligação entre bíblia e a comida num tema que seguramente que não é fácil. Ele levou muito tempo e a sua tese de doutoramento também é nesta área. Um livro que vale a pena mesmo ler.

R.A. – É mais fácil para o Fernando treinar uma seleção ou cozinhar?
F.S. – Não sei cozinhar. Para mim é mais fácil treinar. O chefe tem o dom dele e eu tenho o meu. Somos diferentes, mas cozinhar mesmo eu não percebo nada.

R.A. – Ainda anda a saborear o gosto e a “sobremesa “ de ter sido campeão europeu?
F.S. – Sim claro. Aconteceu….foi muito bonito…bom para todos. Um marco que ficará na história do futebol mundial e do povo português. Mas agora seguem se novas etapas.

R.A. – Uma das temáticas apresentadas neste livro é a fé. Sabemos que é um homem de muita fé. Consegue mostrar essa fé aos jogadores que treina?
F.S. – Não. Não podemos confundir as coisas. A minha fé mostro-a todos os dias nas minhas convições e nas minhas afirmações pessoais. No meu dia-a-dia não bastam só palavras. As palavras leva-as o vento. S. Tiago diz isso numa forma muito clara… “diz-me o tamanho das tuas obras, direi também da tua fé”. Estas coisas não funcionam assim porque temos que ter um grande respeito por aqueles que tem a fé que eu tenho e pelos outros que têm outras formas de fé ou até que não sintam nenhuma. Há que respeitar todos para que possam nos respeitar a nós e é isso que eu faço.

R.A. – No mundial vai dizer aos jogadores o mesmo que disse antes do europeu? Que será para ganhar e que o Chefe Lavrador será o cozinheiro?
F.S. – O chefe Lavrador estará na cozinha, isso é garantido. Agora o que eu possa vir a dizer, só quando chegar mais perto é que eu pensarei naquilo que venha a dizer.

R.A. – Uma mensagem para todos os nossos leitores da revista Amar.
F.S. – Deixo uma mensagem de grande gratidão por tudo aquilo que representa estar lá fora sendo português e estando fora. Eu já tive a oportunidade de estar no Canadá, conheço a comunidade e tenho muitos amigos em Toronto. Também já fui emigrante, de uma forma diferente durante 12 anos na Grécia e sei o que é sentir estar longe de casa, do nosso país e dessa palavra que só nós temos…esse sentimento que é a saudade. Sei o quanto vibram pelo nosso país e o quanto ficam tristes do menos bom. Deixo uma palavra de amizade e de muito obrigado.

 

 

Luís Lavrador é um dos mais conceituados chefes portugueses. Doutorado em Turismo, Lazer e Cultura pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, tem recebido inúmeras distinções e prémios ao longo da sua carreira, entre as quais a do Chefe Cozinheiro do Ano em 2006. Atualmente, Luís Lavrador é docente na Escola de Hotelaria de Coimbra, foi o primeiro chefe português a tirar o doutoramento em Portugal e é ainda chefe da Seleção Portuguesa de Futebol. O livro “Ao sabor da Bíblia”, da Alêtheia Editores, apresenta-se como um duplo convite: primeiro, a um percurso desde os primeiros tempos até ao início do Cristianismo, e, de seguida, como uma convocação à experiência gastronómica da confeção e degustação de menus onde imperam alimentos, temperos e sabores que marcam o itinerário da história Bíblica.

Revista Amar – Chefe Lavrador, apresentar um livro seu na sua terra natal tem um gosto diferente?
Luís Lavrador – Sim tem um gosto bom e diferente. Estou em casa, estou com a família a minha gente. A partilhar algo da minha vida com as pessoas que mais gosto. Por estas razões tem um sabor único.

R.A. – Este é um livro de receitas mas também um documento histórico de antropologia?
L.L. – Sim, as receitas nem são o tema principal do livro. O livro tem como objetivo principal convidar as pessoas a uma viagem ao mundo antigo bíblico no tempo em que Cristo viveu e os profetas. Uma viagem a que eu convido as pessoas a uma experiência de vida feita a partir de referendes um pouco diferentes do habitual que são os da comensalidade e da gastronomia. A bíblia é um livro que está recheado com sabores alimentares e com receitas belíssimas. É uma forma das pessoas poderem abrir a Bíblia e ir ao encontro daquilo que é uma mensagem diferente do que é mesmo habitual.

R.A. – Neste livro existe uma fronteira entre as mesas dos cristãos e a dos judeus?
L.L. – Sim são completamente diferentes. Os judeus viam muitas restrições na mesa, achavam que se chegava à santidade por proibições daquilo que era o comer e o beber, com o sentar ou não na mesa. Eram pessoas que quase que escolhiam quem iria estar na mesa ou não. O cristianismo é mais de inclusão. Tanto que o novo testamento dá uma visão de um Jesus que inclui toda gente.

R.A. – A Bíblia pode ser quase uma guia gastronómico?
L.L. – Sim, mas não será um guia no sentido literal. Mas recorre muito à comida para passar a sua mensagem. Do princípio ao fim existe uma constante referência a termos alimentares. Os autores sagrados utilizaram uma linguagem alimentar para passar a mensagem mais facilmente. Não é por acaso que o fazem porque utilizaram aquilo que é mais vulgar nas pessoas, mais do quotidiano para passar mensagens de santidade, de amor, fraternidade…como todos nós sabemos a mesa tem um sentido de agregação, de partilha, de amor…

R.A. – É o cozinheiro da seleção de futebol. Consegue passar este sentimento bíblico aos nossos jogadores?
L.L. – As culturas antigas são baseadas numa dieta mediterrânica. Ainda hoje todos nós nos baseamos nesta dieta. Os jogados usam muito esta dieta no seu dia-a-dia por uma questão de vigor físico e também afetivo. O pão, as leguminosas, os frutos secos, hortaliças, etc…se reparar isto são exemplos de alimentos bíblicos que naturalmente cozinhados em modo atual servem para os jogadores. No tempo das grandes olimpíadas da antiga Grécia, já nessa altura os atletas já se alimentavam com estes alimentos para o bom desempenho. O que fazemos hoje não é muito diferente e não houve muitas descobertas neste tipo de dieta. É quase tudo igual.

R.A. – Qual é o prato preferido do Cristiano Ronaldo?
L.L. – O Cristiano Ronaldo não tem um prato preferido. Ele come tudo aquilo que necessita dentro daquilo que são as regras alimentares na alta competição. O Ronaldo é muito sério, uma pessoa que se empenha muito naquilo que é a competição e por isso é um jogador que cumpre à risca as prescrições de um nutricionista e de um médico, não prevaricando naturalmente naquilo que é o dia-a-dia de uma dieta alimentar para um atleta de grande qualidade como é o Cristiano Ronaldo.

Imagens: Direitos Reservados

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