Miguel Ângelo: O Delfim da NOVA(pop)
Música

Miguel Ângelo: O Delfim da NOVA(pop)

Além dos Resistência e do regresso dos Delfins, Miguel Ângelo abordou e foi abordado por vários nomes da nova pop nacional para gravar NOVA(pop), um trabalho resultante da interacção a nível da produção e composição com novos nomes da música portuguesa, refletindo até um pouco das 3 décadas de carreira.

miguel angelo - revista amar - portugal

Revista Amar: Vamos aqui falar um pouco da tua vida, mais artística, claro. Dispensa qualquer apresentação, Miguel Ângelo. Antes de tudo, quero-te agradecer em nome da MDC, o teres gravado um vídeo para a menina Eva. Foi um momento um pouco mais pessoal da tua parte porque até a tua filha apareceu no vídeo, o que foi engraçado.
Miguel Ângelo: É verdade.

RA: Começo esta conversa por perguntar como está a correr a tua quarentena, como artista.
: Bem, eu comecei cedo. Comecei em março, uma semana antes de ser obrigatório aqui em Portugal porque também a creche da minha filha mais nova acabou por fechar mais cedo e tivemos logo que ficar em casa. Foi uma época de muito trabalho curiosamente, eu acho que acabei por ter mais trabalho, não remunerado, aqui na quarentena do que se as coisas estivessem a correr normalmente. Isto porquê? Duas coisas muito específicas: uma delas tem a ver com, às vezes, as coisas mais trágicas fazem com que as pessoas se unam, então este meio dos músicos, dos agentes musicais em Portugal sempre esteve muito desligado, cada um a fazer o seu negócio e foram muitas semanas assim. A mulher também está no negócio, é agente e manager de artistas, especialmente ela esteve a tentar juntar as pessoas, a organizar pré-associações para depois poderem ir falar com os ministros, com os secretários de estado, poder exigir para toda esta gente como eu mas não só os artistas, pensamos nos técnicos também, de luz, de som, roadies. Toda a gente que em março ficou sem trabalho, ficou sem faturar nada. Portanto, foram semanas difíceis de tentar falar com pessoas, juntar e registar pessoas, ouvir histórias da boca de muitas pessoas a falar das suas situações, bancos alimentares que se organizaram e que estão no ativo neste momento, para ajudar algumas pessoas em situações mais desfavoráveis porque isto acontece numa altura em que aqui em Portugal a estação dos concertos ia começar. Todas aquelas poupanças que as pessoas fazem no verão, nos concertos, estava-se a acabar, estava a acabar o inverno ia-se começar finalmente a ir para a estrada fazer concertos e teatros ao ar livre… foi mesmo numa altura muito crítica. Também ligado ao meu ramo, eu desde há alguns anos estou ligado a uma escola de produção e criação musical e sou coordenador de um curso de três anos, duma licenciatura em produção e criação musical e tivemos que adaptar, em duas semanas, todo o curso, todas as cadeiras para on-line. Começámos logo no fim de março a dar aulas on-line. Digamos que houve muito trabalho, em casa, feito em casa, no confinamento mas, ao menos, é bom haver ocupação da cabeça, não é? Senão arriscamo-nos a ficar mais letárgicos e parados. E claro, que aproveitei também, sempre que tinha uma hipótese, para escrever canções e para gravar no meu home estúdio algumas coisas.

RA: Essa era a próxima pergunta que te ia fazer, se a quarentena também serve como inspiração porque tens mais tempo para escrever.
: Sim, mas acabei por não ter assim tanto tempo porque com uma criança de 4 anos em casa à solta, aliás, como disseste, que acabou por participar no vídeo da pequena Eva porque estava ali, e deixa-me dizer-te que foi um prazer enorme dar um pequeníssimo contributo para a causa da Eva. Eu acho que os artistas também estão aqui para isso e, neste momento em que estamos todos em casa, porquê não poder ajudar quem precisa mesmo remotamente desta maneira, não estando lá fisicamente mas em espírito? Portanto, foi um prazer enorme participar naquela maratona com tantos artistas.

RA: Uma pergunta que chegou dos nossos telespectadores e ouvintes, porque também temos a Camões Rádio, uma pergunta que certamente já te fizeram algumas vezes: és arquiteto de música? Tu que deixaste a arquitetura…
: (Risos) Eu deixei a arquitetura lá bem longe, em 1992 talvez, quando estive a trabalhar uns anos na Câmara Municipal de Cascais, no Departamento de Projetos e Arquitetura e fui um pouco encostado à parede porque queriam que eu ficasse lá a tempo inteiro e eu estava um pouco em part-time e naquela altura já tinha a música porque os Delfins já estavam a crescer bastante. Eu lembro-me que fizemos a primeira parte do concerto da Tina Turner no Estádio de Alvalade para 65 mil pessoas e foi um êxito gigante. Lembro-me de ter chegado à câmara no dia seguinte e ter toda a gente a bater-me palmas. Portanto, já havia uma carreira em ascensão nos Delfins, havia a Resistência também a estrear-se. Eu precisei que me pedissem para ficar lá a tempo inteiro para abandonar completamente a arquitetura. Gosto muito de arquitetura e só assim foi possível terminar o curso já com tantas tours e gravações de discos, mas a música é o meu sonho de criança. Gosto muito de arquitetura, tenho amigos arquitetos e é uma paixão minha ,mas profissionalmente não. Tive um convite meio secreto sobre o qual não posso revelar muito, da Netflix para um projeto que pode estar ligado à arquitetura devido às voltas que a vida dá mas, profissionalmente sou músico, compositor, autor, produtor e é onde eu gosto de estar.

RA: E no entanto, no final dos anos 80 e na primeira metade dos anos 90, os Delfins foram a referência maior no panorama português.
: Foi um percurso que demorou o seu tempo, hoje em dia vivemos muito na era dos concursos de TV de talentos onde as pessoas aparecem e querem logo ser famosas, e algumas são, mas infelizmente mais de metade delas passado um ano, já ninguém as conhece… vivem muito do imediato.

RA: Talvez o programa “Chuva de Estrelas” foi aquele que funcionou melhor não?
: Sim, mas isso já foi há muitos anos. Começou em 1993/1994 e, desde essa altura, todos os anos há concursos de talentos, temos o “The Voice” aqui em Portugal, “Got Talent Portugal”… sei lá, tantos modelos americanos e ingleses que se copiam. Na realidade há tanta gente todos os anos e, se reparares, há uma dúzia de artistas que estão no ativo que vieram desses concursos, apenas uma dúzia de centenas e milhares de miúdos(as) que vão a esses concursos. De qualquer modo, os Delfins só começaram a ver grandes resultados passados 10 anos, mesmo económicos. Demorou tempo, foi passo a passo, disco a disco, tour a tour. É muito importante os concertos já que é neles que se consegue ganhar fãs novos , pois boca a boca falam a outros. Se o concerto correr bem, quando se volta àquela terra temos o dobro das pessoas a assistir. É tudo feito passo a passo para ganharmos uma estrutura que nos permita aguentar o embate quer do sucesso, quer de algum fracasso também.

RA: E essa estrutura que também é suportada pelas tuas participações nos Resistência, participações quer escrita quer a cantar nos Polo Norte, verdade? E até fundaste um movimento que fazia versões antigas da música portuguesa.
: Sim , verdade! Com o Miguel Gameiro. Sim, eu não consigo estar quieto, como te disse há pouco, mesmo no confinamento havia coisas para fazer. Eu dentro desta área que tem a ver com a música diretamente, que vai também até à televisão, ao teatro, música para filmes são campos que eu gosto de experimentar, até para lançar desafios a mim próprio. Acho que se só ficamos sentados a fazer só aquilo que sabemos fazer bem é bom mas, podemos ficar um pouco para trás. Lembro-me quando me convidaram para fazer dobragens de animação, que era um território desconhecido para mim, fiz primeiro o John Smith no Pocahontas e depois fiz o Woody do Toy Story que me deu um grande sucesso e ainda hoje o é. Foi um desafio grande, uma aprendizagem, gosto deste tipo de desafios que me fazem ir mais longe, conhecer pessoas diferentes e sair um bocado da minha bolha para depois poder voltar à guitarra, ao piano e fazer canções novas.

RA: E também à escrita porque editaste a tua autobiografia.
: É verdade, eu comecei nos anos 90 a escrever ficção, editei alguns romances. É um sítio onde eu também gosto muito de estar… o lugar da escrita. É um sitio solitário, mais que a música já que nela há o estúdio, os outros músicos da banda, as viagens onde estamos todos juntos, os jantares antes dos concertos, há sempre um ambiente de festa e a escrita é uma coisa mesmo solitária onde estamos frente ao computador, com o ecrã vazio a inventar histórias, algumas autobiográficas outras não, mas também quando se chega ao fim dos livros (e falaste na autobiografia foi uma coisa diferente, foi um bocadinho um olhar sobre os 25 anos de carreira dos Delfins) principalmente duma história ou ficção, é uma sensação incrível uma sensação de círculo que se fecha e que se calhar vale a pena aqueles oito meses, dez meses, ano e meio em que se está a tentar escrever o livro e a acabar a história. Mas são sítios diferentes para estar, eu confesso que nos últimos anos tenho tido menos tempo para isso devido às atividades que tenho. Tive também uma filha há quatro anos, já tenho filhos crescidos e ocupam muito espaço da minha vida familiar e não há aquele recolhimento que às vezes é preciso ter à noite para se estar ali um bocadinho à 1h ou 2h da manhã a escrever, cada vez é mais raro na minha vida e por isso a escrita tem ficado um bocadinho para trás neste momento.

RA: A solo, editaste o teu primeiro trabalho “Timidez”, em 1998, depois de terminar a carreira nos Delfins, 25 anos, sentiste que o caminho a solo era o caminho a seguir? O que trouxeste dos Delfins para a tua carreira a solo?
: Acho que são as canções. Eu sou apaixonado por canções, embora o arranjo possa ser diferente, possa ser mais acústico, mais elétrico, mais teclas, mais guitarras, mais calmo, mais rápido, o que une toda a minha carreira com mais de 35 anos são as canções, é escrever canções com que as pessoas se identifiquem, que as pessoas possam ouvir e possam dizer olha esta canção foi feita para mim e, se houver muita gente a pensar isso, acho que é a melhor recompensa que um autor pode ter. No fundo, o segredo é continuar a escrever coisas íntimas que depois possam ser adotadas pelo público. Portanto, eu quando começo a solo… digamos que eu já sabia que ao acabar dos Delfins iria fazer qualquer coisa a solo e aceitei o projeto de que falaste, o chamado “Movimento”, que eram versões de canções portuguesas dos fins dos anos 60, onde conheci pessoas como a Selma Uamusse, que hoje está com uma grande carreira em Portugal, a Marta Ren também… e era para também lavar um pouco a cabeça. Tive 25 anos de Delfins e queria fazer uma coisa diferente, com pessoas diferentes, mas depois já sabia que ia continuar a solo e voltar ao estúdio para gravar canções e voltar à estrada. Comecei duma forma mais acústica, o “Primeiro”, disco de 2012, onde saiu o single “Precioso”, que foi um grande êxito por aqui, era um single mais de guitarras acústicas, de violino que era um instrumento que nunca tinha usado muito na minha carreira, o violoncelo… queria sonoridades que se desmarcassem um bocadinho daquilo que os Delfins tinham feito. Mas depois o percurso continua e a guitarra eléctrica volta e acaba por ser o ADN do qual não se pode fugir, não é?

RA: Queres partilhar connosco, o sentimento que tiveste no último concerto dos Delfins? Aquele em que pisaste o palco sabendo que seria a última vez.
: Foi uma mistura de emoções, passou tudo tão rápido. Nós tínhamos um tour bus atrás do palco na Baia de Cascais, tínhamos vindo de um outro concerto, de outro sítio, não parávamos na altura. Lembro-me que foi um grande stress porque o tempo começou a ficar muito mau, começou a vir uma tempestade enorme, chuva e nós tínhamos tudo preparado para fazer um DVD ao vivo, que foi feito e que foi editado, mas quando o tempo piora, estávamos no dia 31 de dezembro de 2009; quando as condições climatéricas começam a piorar e começa a por tudo em risco, não só o espectáculo em si porque já tinha dezenas de milhares de pessoas a assistir, mas a gravação de som profissional, a gravação de imagem, as multicâmaras tudo ficou em risco. Parecia quase uma profecia para não irmos embora. Nós tínhamos de estar conscientes que o público estava ali e que tínhamos de dar o melhor espectáculo e ainda por cima era o último, mas ao mesmo tempo não podíamos deixar de estar preocupados com problemas técnicos, aquilo foi abaixo por causa da chuva, depois a imagem iria ficar mal por causa de todo o temporal; foi assim muito estranho. Lembro-me que tocámos 2:30h e de ter tirado o telemóvel do bolso porque ia haver fogo-de-artifício às 24h e nós tínhamos feito tudo sincronizado para acabar perto dessa hora… a terminar a “Baia de Cascais” que era a última canção, tirei o telemóvel do bolso e vi que faltavam 10 segundos para as 24h e eu começo fazer o countdown com ao microfone e assim terminou o último espectáculo dos Delfins.

 

RA: Este regresso é um ponto de viragem na história dos Delfins?
: Isto surgiu tudo por acaso. Nós fomos convidados pela Câmara de Cascais, no ano passado, que já andavam atrás dos Delfins há alguns anos para fazer um espectáculo exclusivo e nós dizíamos sempre que não, que não havia razão para o fazer. Mas, no ano passado, fomos convidados para fazer uma coisa diferente que nunca tínhamos feito: tocar com uma orquestra sinfónica de quase 100 elementos em palco, onde eles fariam os arranjos para a orquestra dos temas emblemáticos do grupo. Nós achamos que era uma ideia diferente porque, em 25 anos de carreira, nunca o tínhamos feito. Assim, reunimos de propósito em agosto do ano passado para fazer nas Festas do Mar essa reunião do grupo com uma primeira parte onde convidamos cantores para cantarem canções dos Delfins juntamente com a orquestra e tivemos o Olavo, dos Santos e Pecadores, o Miguel Gameiro, o Tim, o João Pedro Pais, depois tivemos gente nova como o pessoal dos HMB, o Heber, a Joana Espadinha, a Ana Bacalhau… quisermos ter a nova geração a cantar canções dos Delfins e foi muito interessante. Aquilo correu tão bem que apareceram logo agências a querer fazer alguma coisa com os Delfins, houve uma proposta que foi aceite e é uma proposta que é finita no tempo, ou seja, não haverá um regresso dos Delfins à sua carreira porque acho que não faz sentido mas, há sim, um regresso para uma tournée onde se vai celebrar as canções dos Delfins, e daí o nome da tour ser Celebração.

RA: Então quer dizer que, no futuro, não vai existir uma continuidade dos Delfins, do projeto?
: Não. Há esta proposta duma tournée naquelas datas, ia ser este ano mas, devido à Covid-19, acabou por ser tudo anulado; terá uma data nova no Rock in Rio que também foi adiado para o próximo ano; mantém-se a Feira de São Mateus que também já estava confirmada… mantêm-se algumas datas e outras aparecerão. Mas é uma tour para celebrar as melhores canções, os singles de grande êxito dos Delfins com toda a banda; não vai haver um regresso dos Delfins a gravar coisas novas e nem novos discos. Eu sei que é difícil dizer que desta água não beberei porque, às vezes qualquer coisa muda e pode acontecer.

RA: Pode acontecer, como aconteceu com os Resistência.
: Pois, por exemplo. Mas os Resistência é um caso diferente porque na sua primeira vida tiveram apenas 3 anos de carreira mais ou menos, depois acabaram e agora já estamos juntos há 8 anos, desde que voltámos em 2012. As coisas correm muito bem, acho que até melhor que nunca e é um caso diferente. Os Delfins foram 25 anos, um quarto de século… é muito tempo, portanto é difícil. Como te disse, não se pode dizer que desta água não beberei mas, não estará previsto um regresso à atividade regular. Nós todos temos coisas a solo, todos estamos ocupados. Faz sentido sim, porque as pessoas pedem-nos, voltar a celebrar as canções que são conhecidas do grupo e que são essas que as pessoas querem ouvir. Isso acontece com toda a gente, os Rollings Stones e até U2, lançam um disco novo, fazem um concerto as pessoas vão, mas querem ouvir os grandes êxitos. Podem ouvir o single novo porque até gostam, mas estão ali para ouvir os grandes êxitos e é isso que pretendemos. Toda a gente está muito bem, não houveram grandes divergências, mesmo no fim do grupo toda a gente ficou bem.

RA: Então a set list desses concertos está feita porque os sucessos são praticamente todos…
: É para cantar do princípio ao fim, eu acho que vai ser bom.

RA: Agora mais recente, lançaste no final de 2019 o álbum a solo “Nova Pop” escrito com uma nova geração de músicos portugueses. Como é que foi essa tua adaptação, a esta nova escrita destes novos talentos portugueses?
: Lá está, há pouco falava-te em desafios, não é? Foi mais um desafio porque foi algo que eu nunca tinha feito. Nós estamos habituados a fazer colaborações tipo duetos, convidar aquele cantor, aquele grupo, mas isto é diferente porque implicou que desde o início da escrita da canção houvesse uma parceira. Portanto, eu trabalhei desde o zero com o Filipe Sambado, com os D’Alva, com a Surma, com os Chinaskee… artistas muito jovens.

RA: E em cada concerto da tour tinhas um convidado, não era?
: Sim e vou recuperar. A tournée foi interrompida por causa do Covid-19, mas vai ser recuperada a seguir ao verão já com algumas datas e a ideia é ter sempre um convidado diferente em cada concerto. Vou fazer agora uma coisa para a RTP com todos os convidados, que só sairá a partir de setembro, mas a ideia é fazer espetáculos com a colaboração deles. Isto foi bom porquê? Porque foi bom chegar a uma nova geração da pop portuguesa, ver como trabalham, aceitar sempre as ideias deles. Eles eram também produtores em algumas canções, portanto eu tinha a minha opinião, mas a decisão final era sempre deles, pus-me um bocadinho nas mãos deles. Isso foi uma sensação boa ver que há uma nova geração que gosta daquilo que eu fiz e que se identifica comigo e que está em palco comigo. Curioso, um dos nomes que é o mais alternativo, Chinaskee, foi meu aluno há 5 anos, passou pelas minhas turmas da escola da ETIC e agora, passado um tempo, estive em estúdio e em palco com ele, acaba por ser uma sensação incrível.

RA: Para terminar, que objetivos tens ainda por alcançar?
: (risos) Gostava de ir á lua, vou pedir ao Elon Musk para me levar, mas eu às vezes também ando na lua por isso não é preciso o Espace X para isso. Escrever canções e fazer discos é sempre um desafio porque estamos sempre a querer gravar um melhor que o anterior e isso ás vezes não acontece, como é óbvio! Mas eu acho que pelo menos tentamos. Portanto, eu estou sempre a pensar no próximo disco, no próximo projeto, no próximo concerto; não tenho assim uma ambição gigante porque o meu sonho de criança é aquilo que eualcancei, que é ser músico, viver da música em Portugal que, se calhar, no princípio dos anos 80 era ainda um sonho distante e consegui fazer isso, já o faço há 35 anos, às vezes duma maneira, outras vezes de outra, mas sempre ligado à música. Esse foi o meu grande sonho, um sonho que eu realizei e que estou satisfeito. Tive a sorte de ter uma banda, que foi a mais famosa da pop portuguesa e que vendeu mais discos de sempre… o quê é que eu posso pedir mais? Não preciso de pedir mais nada.

RA: Miguel agora eu é que te peço para deixares uma mensagem a quem está no Canadá.
: O meu voto só pode ser um: que a gente se possa encontrar fisicamente num espectáculo, por aí, quando cá vierem porque todos sentimos falta desse cantinho. Está a haver muitos concertos on-line, eu sei, muitas atuações, mas aqui em Portugal já começou a arrancar aos poucos, os sítios já estão a encher com metade da lotação; o Campo Pequeno já reabriu para espectáculos; as pessoas têm cuidado, vão de máscara, estão afastadas 1,5 m de cada; os lugares que são vendidos têm sempre lugares espaçados. Eu acho que é um princípio para voltarmos a esta vida e para as pessoas deixarem de ter receio, temos de ser todos muito cuidadosos para isto não voltar para trás, mas acho que todos temos de trabalhar e estar perto uns dos outros. Portanto, o meu voto é que todos nós estejamos mais perto num futuro próximo.

RA: Miguel Ângelo obrigada por esta grande conversa, obrigado por tudo aquilo que já fizeste e vais fazer pela música portuguesa.
: Muito obrigado. Grande abraço.

Paulo Perdiz

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