A auto-estima como arma de arremesso
Psicologia

A auto-estima como arma de arremesso

Incrível como um mesmo evento toca de forma tão diferente pessoas que, aparentemente parecem estar em condições semelhantes e outras que tinham tudo para ser atingidas, e não são.

As pessoas dizem-me “eu tenho um problema de auto-estima”, “isso é mais um problema que eu tenho, não acabo as coisas”; “fujo do espelho e das fotografias”, “ganhei peso e a minha auto-estima está um caos”, “não faço nada bem”; “gostava de ser boa mãe e de ter algo para dar”, estas e outras afirmações nascem soltas, baseadas numa auto perceção, onde o emocional ganha força, descolando-se do real.

No entanto, por vezes, estas mesmas pessoas demonstram atitudes reveladoras de uma auto-estima com alguma consistência.

Tem falta de auto-estima e aventura-se em projetos em que é preciso acreditar, projetar e pôr em prática todos os dias?

Tem falta de auto-estima e define bem os seus limites para que os outros não usem e abusem de si, da sua boa vontade e do seu querer agradar?

Tem falta de auto-estima e destacaram-no para gerir um novo projeto na sua empresa porque acreditam na sua performance?

Tem falta de auto-estima e investe numa alimentação mais saudável para se sentir melhor consigo?

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Créditos © Adrian Swancar

 

Auto “desconhecimento”

Quando desvalorizamos o autoconhecimento, é normal sentir que não correspondemos á forma como os outros nos identificam e nos veem. Fica até estranho. Magicamos justificações que sustentam recursos, qualidade, conquistas, mérito pessoal, como sendo do acaso.

Fugimos de nós, como o diabo da cruz. Assim torna-se mais difícil olhar para dentro, chegar á essência. Identificar e aceitar. Segundo a escola humanista da psicologia de Carl Rogers, “Não podemos mudar, não nos podemos afastar do que somos, enquanto não aceitarmos profundamente o que somos”.

Rogers cita também “Todo ser humano, sem exceção, pelo mero fato do ser, é digno do respeito incondicional dos demais e de si mesmo; merece estimar-se a si mesmo e que se lhe estime”.

Auto-estima

A auto-estima deriva dos processos de avaliação subjetiva que o indivíduo faz das suas qualidades, desempenhos ou virtudes e é fundamental para o bem-estar mental e físico de qualquer pessoa, já que a aceitação de si mesmo se reflete em cada aspeto da vida.

É a forma como nos atribuímos valor e nos sentimos a nosso respeito (sentimento de estima de si). Ocupa, por isso, um lugar proeminente na compreensão e na explicação dos transtornos emocionais.
Segundo Albert Bandura, psicólogo canadiano, a autoeficácia é a crença que o indivíduo tem sobre a sua capacidade de realizar com sucesso determinada atividade.

Autoconhecimento

Conhecermo-nos a nós mesmos ajuda-nos a tomar decisões com maior clareza, a pensar de forma mais confiante e a saber o que devemos fazer em cada situação.

A consciência da nossa identidade torna a nossa vida mais simples e facilita os nossos relacionamentos intrapessoais e interpessoais.

A partir da perceção de nós próprios, a nossa forma de agir e pensar acontece, podendo gerar sentimentos de inferioridade ou superioridade, autocrítica, autocensura, narcisismo ou egoísmo. Todas essas características influenciam diretamente a nossa auto-estima, bem estar e funcionalidade.

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Créditos: Direitos Reservados

 

Fortalecer a auto-estima

A auto-estima pode ser treinada e desenvolvida. As pessoas que não acreditam em si, foram ensinadas, por algum motivo não consciente, a não acreditar em si. Por isso, é possível ensinar o caminho inverso. Pode não ser um caminho fácil, mas pode ser possível na medida de cada caso, fomentando atitudes e promovendo a aquisição de competências.

A lista de atitudes benéficas para desenvolver auto-estima é imensa, mas fica uma lista de apenas 8:

  • Liberte-se da culpa, a responsabilidade de a terra ser redonda não é sua. Desresponsabilize-se do que não é da sua responsabilidade.
  • Deixe de lado as comparações com os outros. Seja justo e compare-se consigo. Quando se trata da vida, não existe base de comparação. Faça o que satisfaz as suas necessidades psicológicas e promove o seu bem estar.
    Seja honesto consigo próprio. Mentir é prejudicial, e quando é connosco, pode-nos colocar em situações nefastas. Assim, abrace as suas qualidades e limitações, desqualificando o perfeccionismo excessivo, bem como o individualismo desmedido.
  • Pratique a gratidão no seu dia a dia. Fomentar a prática da gratidão diária, promove resiliência e impulsiona melhores atitudes.
  • Aceite aquilo que não pode mudar. A aceitação promove o desenvolvimento a partir desse ponto, desbloqueando caminhos.
  • Tenha a sua rede de apoio (amigos/ família).
  • Pratique exercício físico. Cuide do básico. O exercício tem altíssimos benefícios ao nível psicológico e físico. Atua na regulação do humor, diminui sentimentos de depressão, ansiedade e stress. Ajuda a melhorar a circulação sanguínea, fortalecer o sistema imunológico e dos ossos. Contribui para a diminuição do risco de doenças cardíacas, atua no emagrecimento, entre outros.
  • Viva no presente. Viva no agora. Independentemente do que foi feito ou do que irá acontecer, tire partido do momento presente. O poder do aqui e agora liga-nos ao momento presente, ao querer agarrar este tempo e oportunidade de viver. A melhor parte é que cada dia é uma oportunidade para fazer melhor ou diferente.

Hemisférios

Segundo o trabalho experimental desenvolvido por Andrew T. Austin, psicoterapeuta e formador, a ansiedade é predominantemente um fenómeno fisiológico do hemisfério esquerdo. Se tirarmos uma fotografia ao cérebro de um ansioso a funcionar, seria comum observar esta parte do cérebro com uma atividade muito elevada, donde podemos deduzir a predominância de diálogo interno muito acentuada.

Daniel H. Pink (2006), considerado o maior especialista mundial na análise das emoções humanas e expressão das mesmas, no seu livro, “A nova inteligência”, alerta-nos para o facto de que o futuro pertence a quem for capaz de usar o lado direito do seu cérebro.

O sentido da vida

Justificando com o paradoxo da prosperidade, a abundância brindou a nossa existência com objetos maravilhosos, mas, entenda-se que a quantidade de bens materiais não nos faz necessariamente mais felizes, derivado da procura crescente de sentido de vida que se impõe.

“As pessoas têm o suficiente para viver, mas nada para que viver. Possuem os meios, mas nenhum fim”, Victor Frankl.

Segundo Pink, hoje a procura assenta, essencialmente, na conjunção de 2 fatores: “a capacidade de sentir empatia pelos outros, entender as subtilezas da interação entre as pessoas, saber encontrar a satisfação de viver dentro de nós próprios, bem como de ajudar os outros a fazê-lo e, também, ser capaz de perseguir um sentido para a vida além da rotina diária”.

Qualquer trabalho baseado em rotinas, que pode ser reduzido a um conjunto de regras ou decomposto numa série de passos que se repetem, estará em risco, dado a falta de sentido.

Profissões como artistas, inventores, designers, contadores de histórias, prestadores de cuidados de saúde, psicólogos, tendencialmente estão em ascendência.

E porque é que isto está a acontecer? Muito devido ao paradoxo da prosperidade, ou seja, a abundância que nos abordou nas últimas décadas uma quantidade de com objetos maravilhosos e bens materiais, não nos faz necessariamente mais felizes.

A capacidade de criar beleza artística e emocional, detetar padrões e oportunidades, elaborar uma narrativa satisfatória e combinar ideias desconexas num novo objeto.

Já não chega possuir. Vivemos num mundo de riqueza material, pelo que muitos procuram objetivos mais significativos: a transcendência, a realização espiritual e o sentido da Vida.

Assim, a viagem e o encontro com o sentido da vida, leva-nos também á nossa essência, a sermos nós próprios, a viver com auto-estima e a sermos mais felizes.

Isabel Rebelo

Psicóloga e Hipnoterapeuta

 

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