Emoções sem fronteiras
Psicologia

Emoções sem fronteiras

O vazio manteve-se ignorado, mas estava lá e causava inquietação. Um “frenesim” mental ao ritmo do qual disparavam pensamentos: “Será que alguém vem à minha festa? Será que vai ser divertido? E se não se lembrarem?”. Lembra-se, ainda no ensino básico, no seu dia de anos, quando nenhum amigo apareceu na sua festa, estava apenas a família mais próxima. Nesse dia, comeu todos os pãezinhos de leite que encontrou na mesa.

Ana Cristina era a mais nova de cinco irmãos e por isso começou muito cedo a querer fazer as suas coisas tal como os irmãos. Acontece que insistiu com a mãe em ser ela a entregar os convites da festa aos meninos da sua aula e como criança que era e no meio da confusão do dia, esqueceu-se completamente de o fazer.

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A partir desse dia, Ana Cristina aprendeu que o seu aniversário era motivo de inquietação e nervosismo, não sabia bem porquê, mas habituou-se assim. Para se sentir melhor e gerir o tal “vazio”, Ana Cristina comia todo o dia, garantia exaustivamente a presença dos convidados e esmerava-se na organização da sua festa”.

Segundo Carl Gustav Jung, fundador da psicologia analítica, “A emoção é o momento em que o aço encontra a pedra e provoca uma faísca, pois a emoção é a principal fonte de qualquer tomada de consciência”.
Alegria, medo, surpresa, raiva, tristeza, serenidade, ofensa, ansiedade, encantamento, nojo, desorientação, motivação, confusão, estas e muitas outras palavras pertencem à família das emoções.

As emoções ocupam um lugar significativo nas nossas vidas, são guias fundamentais na nossa rotina. A palavra “emoção” provém do latim “exmovere” ou”emovere” que significa “movimento para fora ou colocar em movimento”. Entendemos então que a emoção é aquilo que nos coloca em movimento fora e dentro de nós mesmos. Pesquisas científicas demonstram que emoções mal orientadas podem exercer efeitos negativos sobre a saúde, tanto física como a mental.

Falemos agora de um conceito bastante interessante, o piloto automático das emoções. Será que você já ouviu falar deste conceito? Sabemos que num avião a função do piloto automático garante o bom funcionamento de todos os mecanismos indispensáveis do voo sem a intervenção humana da tripulação. O piloto automático permite uma navegação mais precisa, económica e a rentabilização dos recursos. Na mente humana esta função existe quando processamos os nossos pensamentos e comportamentos de forma automatizada.

O funcionamento no modo automático tem muitas vantagens. No seu livro mais recente, o escritor e neurocientista David Eagleman da Universidade de Stanford diz-nos que o nosso cérebro tem a capacidade de construir circuitos dedicados às atividades que praticamos, seja andar, fazer surf, comer, falar ao telefone, ver televisão, nadar, sem qualquer esforço consciente. Esta capacidade de gravar programas na estrutura do cérebro revela-se como um dos “super-poderes do cérebro”. Ao memorizar todos estes processos complexos, conseguimos empreender várias ações em simultâneo, como andar de bicicleta, comer, correr, vestir, com consumo baixo de energia, rapidez de execução e promovemos a nossa autonomia.

Como em tudo na vida, também existem desvantagens no modo automático. Ainda segundo David Eagleman, as novas competências gravadas na estrutura do cérebro passam para um nível em que a consciência não tem acesso. Perdemos então o acesso aos programas que estão a ser executados nas profundezas do cérebro. Assim, repetimos velhos hábitos diariamente que nem sempre nos são úteis sem saber precisamente como fazemos o que estamos a fazer.

Algumas pessoas reagem ao stress com agressividade, outros tendem a refugiar-se na comida pois houve um dia ou fase em que este comportamento funcionou e foi iniciado um padrão neuronal que pela repetição se tornou automático. Assim se perde a liberdade de optar conscientemente pela resposta mais adequada em determinada situação.

De facto, não somos os nossos pensamentos. No mundo complexo de hoje, pensar ainda é uma função indispensável. O problema não reside nos nossos pensamentos, mas na relação que estabelecemos com eles. Quando não os pomos em causa, deixamos que eles dirijam a nossa vida e se tornem a realidade. Ora pensamentos automáticos favorecem emoções automáticas que influenciam os nossos comportamentos.
Ocorre que nós não experienciamos o todo das nossas emoções. Não as sentimos, não as compreendemos de forma profunda e consciente, tanto as boas como as más emoções.

Consequentemente, na nossa relação com a comida, sucede que a usamos frequentemente para regular o nosso metabolismo emocional ou como forma de gerir as nossas emoções.

Desenvolve-se um ciclo: sentimo-nos mal e comemos, e sentimo-nos melhor. Estes comportamentos encadeados estabelecem sentido e ficam gravados na estrutura do cérebro.

As emoções relacionadas com a comida tornam-se simbolicamente mais importantes quando nós colocamos todo um sentimento, energia e emoção na nossa comida, convencidos de que nos faz bem. Na nossa cultura até temos a expressão “com a comida não se brinca” que demonstra bem a importância que esta tem na nossa sociedade.
Ao aceitar que é humano, que é um ser imperfeito, você começa a sentir emoções e quando consegue aceitar tudo isto começa também a amar-se mais e a querer fazer alguma coisa por si. E nas alturas em que você come de forma emocional, perdoe-se. Perdoe-se e liberte-se porque isso vai fazer com que se queira sentir melhor e optar pelo caminho da saúde, do bem-estar e da sua aceitação.

Na vida, quando começa a ouvir e a abraçar todas as suas emoções e não só aquelas que estão no seu prato e que são conduzidas pela comida, você começa a saber gerir melhor as suas relações, logo, a sua relação com a comida.
No registo automático, a nossa primeira reação é a de lutar contra sentimentos difíceis. Esta tentativa de resolver emoções de forma rápida, faz-nos perder a oportunidade de desenvolver sabedoria acerca do que sentimos e como sentimos, bem como de observar a relação que esses sentimentos estabelecem com a forma como direcionamos a nossa vida. Quando enfrentamos as nossas emoções, quando as compreendemos e as utilizamos de forma útil, começamos a sentir-nos melhor connosco, com os outros à nossa volta e a desenvolver a nossa inteligência emocional! É aqui que a magia da vida acontece!

A questão não é encontrar a dieta mais adequada, mas sim saber gerir as nossas emoções. Usar a comida para gerenciar as emoções é semelhante a utilizar óleo do carro para limpar os vidros do carro. Não funciona.
Se quer emagrecer, conheça-se melhor e permita-se desenvolver a sua inteligência emocional.

O corpo fala e dá sinais, as emoções falam. Oiça o que elas têm para lhe dizer!

Isabel Rebelo

Psicóloga e Hipnoterapeuta

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