Diálogos Emocionais
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Diálogos Emocionais

Revista Amar - Pscilogia - Isabel Rebelo - Diálogos Emocionais

Estados de transe

É incrível como entramos e saímos de estados de transe várias vezes ao dia. Estados contemplativos, estados de ansiedade ou diria até estados de foco intenso. Incrível como nem nos damos conta desta capacidade interna de fazer “off” em relação ao que está á nossa volta, seja um caminho, um filme no cinema, ou um grupo de pessoas a passar por nós. Acontece então, uma intensificação do nosso diálogo interno, em que dificilmente no conseguimos descentrar e ter distância sobre aquele assunto. Sabemos que sem diálogo interno não geramos ansiedade.

Ansiedade

A ansiedade é uma realidade presente nos dias de hoje, e muitas vezes, de difícil controlo, associada a inúmeras variáveis contextuais, orgânicas, emocionais e sociais. Sabemos que sempre existiu, dado que faz parte do nosso sistema “adaptativo”.
Existe a boa e existe a má ansiedade, que nos pode levar á doença. Uma dá-nos “gás”, a outra “paralisa-nos”. No entanto, em ambas as situações devemos saber identificar factos, situações e emoções. Apesar da ansiedade ser uma resposta adaptativa e natural do nosso corpo, algo fisiológico essencial para a nossa sobrevivência, em alguns momentos, pode mesmo tornar-se nociva. No caso desta pandemia atual, aprender como lidar com a ansiedade é importante na vertente preventivo da saúde mental.

Escutar o corpo

Uma das estratégias é aprender a “escutar” o corpo. Repare como, quando sente alguma emoção, seja tristeza, alegria, frustração, o seu corpo acompanha esse sentir. O corpo fica mais ou menos prostrado, apresenta tensão ou leveza, dependendo da emoção que está a ser vivida. Realmente a emoção está no corpo.
Na minha prática clínica, recebo pessoas, que vêm para aprender a identificar emoções e a compreendê-las. Isto significa, que vêm fazer exatamente o oposto daquilo que faziam. Lembro-me de um senhor que me dizia “tenho vergonha de sentir esta raiva” e então, enterrava-a dentro de si sem a processar adequadamente.
Outra senhora que “tapava” e silenciava o sonho impossível de ser mãe. “Achei que este assunto já estava arrumado, mas ontem senti-me inundada de uma vontade e a sonhar de forma tão intensa, como se fosse realidade”.
Perceber as emoções, entender porque estão ali ainda, porque incomodam e abraçá-las, faz parte do processo, tanto terapêutico, como pessoal.

Fugir da dor

Claro está, que estas atitudes e comportamentos, não passam de estratégias de coping, para possibilitar um funcionamento na rotina de quem o faz. De facto, algumas destas táticas, ajudam-nos a “disfarçar” a dor, mas sem termos a consciência de que este comportamento nos mantém mais tempo no problema.
É importante não esquecer que o corpo fala e, mais cedo ou mais tarde aquilo que não foi bem processado começa a dar sinais e a emergir sob várias formas.

O corpo fala

Quando não escutamos os sinais e os sintomas, a mente e o corpo adoecem. É fundamental percebermos o que se está a repetir como padrão. Negar nunca ajuda no caminho da solução.
Acontece que o ser humano foge da “dor” e privilegia o “prazer”. Só quando o desconforto se torna insuportável, tendemos a olhar para nós e arranjar uma alternativa. Os sentimentos de dor, culpa, raiva, revolta e outros não são para aprendermos a conviver com eles, mas sim entendê-los, aceitá-los, para de alguma forma resolvê-los.
Segundo o psicólogo Carl Rogers, “O paradoxo curioso é que quando eu me aceito como eu sou, então eu mudo”, e ainda podemos citar outra frase sua em tom de esclarecimento da primeira, “Não podemos mudar, não nos podemos afastar do que somos enquanto não aceitarmos profundamente o que somos”. Rogers ficou famoso por desenvolver um método psicoterapêutico centrado no próprio paciente, uma abordagem centrada na pessoa.

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“Eu deveria”

A ansiedade vem associada a uma interpretação errada de várias situações, como sendo potencialmente perigosas, ameaçadoras e repetidamente indicativas de perigo futuro, resultando em estados de hipervigilância e hiperestimulação fisiológica.
O discurso do “eu deveria” é muito comum num registo ansiogénico, que comumente aflige as pessoas. Frequentemente oiço, “eu deveria ser mais disciplinado”; “eu deveria ser melhor mãe”; “eu deveria cuidar mais de mim e ficar mais atrativa”, “eu deveria não sentir raiva”.
Evitar este tipo de afirmações e adotar outras mais reais e empáticas, aproxima-nos de uma maior auto aceitação, libertando-nos de uma pressão constante.

Lidar com pensamentos inúteis

Estabelecer um “diálogo” com estes pensamentos inúteis e indesejados pode trazer grandes benefícios.
Num primeiro momento questionar se é um pensamento ou um facto.

  • Perceber se estou a tirar conclusões precipitadas, se estou a ter em conta todos os elementos.
    Ver todas as alternativas;
  • Perceber qual é o efeito que este pensamento tem sobre mim?
  • Quais as vantagens e desvantagens?
  • Haverá alguma resposta possível a isto?
  • Será que estou a pensar de uma forma muito radical e drástica (polarizada).
  • Está tudo mal por causa de um acontecimento ou algo específico?
  • A culpa faz sentido? Ou outra emoção?
  • Quanto disto tem a ver comigo?
  • Quão perfeito eu posso ser?
  • Estou a viver a minha vida ou a vida de alguém?
  • Estou a viver a vida como ela é ou como eu acho que deveria ser. As coisas estão ou não fora de proporção ou fora de controlo?
  • Há alguma coisa que eu possa mudar?
  • Não há nada que eu posso mudar?

A psicoterapia

A psicoterapia cognitiva comportamental integrativa com uma abordagem em hipnose clínica, é muito útil em transtornos de ansiedade. A utilização da hipnose proporciona redução de ansiedade, da agitação e das ruminações, sendo uma forma de demonstrar ao paciente que as suas manifestações clínicas são maleáveis, fomentando expectativas positivas para o tratamento.

Estudos controlados e randomizados mostram evidências de que as técnicas de hipnose e de relaxamento podem reduzir a ansiedade, como também a auto hipnose ajuda a reduzir sintomas psicológicos e mentais de ansiedade.

A sensação sobre a perda de controle sobre as próprias reações emocionais e sobre o próprio comportamento é uma característica comum á maior parte dos transtornos de ansiedade, independentemente da severidade.
As ferramentas e métodos hipnóticos, devem servir para encorajar a auto regulação, a auto confiança e a fé em si mesmo, a auto eficácia, logo fortalecer a auto estima. Também aqui nos deparamos com a influência de Rogers, que aponta a importância da relação da pessoa e do terapeuta, que são iguais e não possuem posição de hierarquia. Assim, é importante que o paciente entenda que a hipnose não é feita para ele, mas com a sua participação. Todo o trabalho terapêutico é um trabalho de equipa.

Isabel Rebelo

Psicóloga e Hipnoterapeuta. Saiba mais aqui.

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