Narcisismo: Excesso de amor próprio
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Narcisismo: Excesso de amor próprio

Amar-nos a nós próprios é imprescindível! Porém, é necessário termos limites para esse amor, porque gostarmos demais de nós pode ter os seus sérios inconvenientes e apelidar-se de narcisismo.

Como tudo na vida o amor também deve ter os seus limites. Seja o amor pelos outros, animais, trabalho, ou pelo que quer que seja, necessita de regras específicas. O amor que se tem pelo nosso corpo, rosto, figura, personalidade, necessita também de uma medida certa senão acabaremos por cair naquilo que se designou por Narcisismo.

E quem era Narciso? Narciso era um jovem que gostava tanto de si que se acabou por se apaixonar pela sua pessoa. A paixão por ele mesmo era de tal ordem que levou Narciso a provocar a sua própria morte, atirando-se ao rio onde estava refletida a sua imagem. Não é que hoje em dia as coisas se passem como neste episódio da mitologia grega, mas há de facto pessoas demasiadamente apaixonadas por si e que vivem num mundo à parte.
O fundamental é saber encontrar a medida certa de amor por si mesmo. As pessoas que não gostam do seu corpo, da sua personalidade ou daquilo que vêm refletido no espelho têm enormes problemas de auto-estima, mas aquelas que exageram neste sentimento acabam também por não ter uma vivência saudável. A auto-estima é tão elevada que as pessoas ficam com uma falsa perceção da realidade, construindo um mundo que é habitado apenas por elas mesmas.

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Neste domínio é comum falar-se de pessoas egocêntricas. Demasiadamente centradas em si próprias, muito dificilmente conseguem ouvir a opinião de quem quer que seja, tentando sempre assumir um papel de liderança e de domínio em relação a tudo o que está ao seu redor. Na realidade, uma conversa com um narcisista não existe! Só ele tem o direito à palavra, à verdade e à razão. É muito dado a detalhes quando comunica com os outros, ou melhor, quando cria um monólogo protagonizado por si, por forma a tentar conseguir que todos os outros se deixem levar pela suas palavras e, assim, afirmar-se de maneira imperial.

Há em qualquer narcisista o desejo de ser o destaque do acontecimento ou do momento, o embrião de uma qualquer situação por mais insignificante que seja. Ainda que não sejam mentirosos, têm uma grande necessidade de contar muitos detalhes que em nada alteram o rumo da história.

Esta postura serve apenas como tática para se afirmar ainda mais perante os seus ouvintes. Aparenta ter uma vida estável, sem qualquer problema, sempre feliz e bem disposto, pois o narcisista nunca se mostra vitima do que quer que seja. A sua vida é, apenas segundo as suas convicções, o sonho de qualquer um!

Todavia, e ainda que aparente possuir uma vida perfeita, o narcisista vive com uma grande solidão e amargura dentro dele. A vida fictícia que criou para os outros julgarem que ele é o melhor, faz com que a pessoa egocêntrica tenha uma grande necessidade de se refugir e fechar em si mesma pois ‘sabe’, no seu inconsciente, que tudo aquilo não é tão verdadeiro assim. O final desta postura de vida, caso se continue com esta atitude, é o caminho escuro e sombrio da solidão.

O narcisismo, segundo os psicólogos, pode ter as suas raízes na infância. Um dos motivos apontados tem a ver com o facto da criança nunca ter sido verdadeiramente apoiada, incentivada ou acarinhada quando era pequena, o que originou a criação de um mundo particular, muito seu, no qual ela sempre foi o principal e único destaque.
Mas, outras das causas apontadas, tem a ver exatamente com a situação oposta: os pais mimaram tanto a pessoa quando ela era nova, fazendo-a sentir sempre a mais forte e a melhor, que há agora uma grande dificuldade em quebrar esse mundo. À medida que crescem, as crianças, em qualquer destes dois casos, têm uma tendência para ir aumentando esse mundo utópico de intensidade ilusória.

Segundo Freud, os narcisistas incidem sobre si mesmos a escolha do objeto sexual, projetando sobre seus parceiros características que são próprias de sua personalidade, buscando neles pontos que coincidam com sua forma de ser, para que possam amar estas pessoas como foram amados por suas mães. Em outra obra, Caso Schreber, Freud define o narcisismo como um processo inserido entre o auto-erotismo e o amor direcionado para um objeto externo. Em outros estudos, o pai da Psicanálise mostra o mecanismo narcísico como um encolhimento da líbido ao âmbito do ego e demonstra como estes eventos mentais conduzem a outros distúrbios, como a megalomania e a crença no poder supremo do pensamento. Mas é no livro Sobre o Narcisismo: Uma Introdução que Freud investe diretamente nas pesquisas sobre este tema, inclusive revelando que um equilíbrio entre o foco no ego e a líbido direcionada para outro objeto sexual pode contribuir para que o sujeito desvie a sua energia psíquica de si mesmo, embora isto não ocorra completamente.

Aos poucos as especulações teóricas de Freud se transformaram em experiências clínicas, nas quais o psicanalista pôde entender mais profundamente os mecanismos do psiquismo humano, principalmente nos seus estágios iniciais. Estas observações influenciaram definitivamente outros autores, pertencentes às mais diversas escolas psicanalíticas. Nos estudos contemporâneos, aliam-se os mitos de Narciso e de Édipo – o personagem mítico que se apaixonou pela própria mãe –, propiciando um entendimento mais amplo do Narcisismo. Nos primeiros cinquenta anos dos estudos psicanalíticos, a teoria de Édipo foi fundamental, sendo destronada depois pela de Narciso. Em nossos dias, com o desenvolvimento de escolas como a Psicologia do Self, de Heinz Khout, o narcisismo ganhou ainda mais destaque. Nesta corrente, porém, não é importante distinguir narcisismo primário ou secundário, mas sim normal ou doentio.

O narcisismo é um dos problemas que afeta muitas pessoas, homens ou mulheres, e a maioria das vezes a pessoa egocêntrica não se apercebe que o é. Julga que ser melhor que os outros é algo perfeitamente natural. Mantendo uma relação muito difícil com o mundo, dificilmente conseguem ter amigos muito chegados e que durem para toda a vida, devido à sua incapacidade para escutar e conseguir penetrar no verdadeiro mundo dos mortais.

Por isso, a solidão costuma ser uma das muitas experiências dos narcisistas. Os problemas depressivos, a falta de carinho e de interligação com o mundo fazem com que os narcisistas se isolem cada vez mais. A droga ou o álcool podem vir a ser um dos seus fiéis companheiros.

Uma terapia é a melhor solução para estas pessoas. Embora a cura leve algum tempo, pois não é de um dia para o outro que a pessoa abandona o seu mundo de ilusão, há fortes esperanças que o narcisista possa vir a ter uma vida normal. Para isso, é preciso que o especialista vá ao ventre do problema que afeta a pessoa para que, em seguida, se caminhe na reconstituição do paciente.

Só assim encontrar-se-á uma pessoa comum às outras com momentos de alegria e tristeza, como qualquer ser humano!

Andreia Felicidade

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