O divórcio: o trauma e como gerir o fim da relação com os filhos
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O divórcio: o trauma e como gerir o fim da relação com os filhos

Uma família para a sociedade ou um inferno dentro de casa? Encare-se como se quiser, um facto é provado: o número de divórcios tem vindo a aumentar em Portugal. Em qualquer família são sempre os filhos que mais sentem o amor dos pais e que mais sofrem com as zangas e separação destes.

Poucas pessoas no mundo se podem orgulhar de dizer nunca ter assistido a uma discussão dos pais. Mas esta também não é a medida para julgar os casamentos em que reina o silêncio por medo ou por questões sociais, mas onde o ódio e o desalento são reis, apenas escondidos por uma fachada de felicidade.

Inúmeros casais permanecem juntos, mesmo depois de se ter apagado qualquer chama de paixão ou até de respeito e dignidade. Seja por falta de recursos económicos, seja por imperativos sociais e educação religiosa, os pais, julgando estar a preservar os filhos de um processo de divórcio, podem estar apenas a arrasar com a vida psicológica destes que tentam proteger.

É do senso comum que os casais que chegaram a um ponto de não retorno, no que respeita à relação, se devem separar? Não, segundo recentes estudos da Universidade da Califórnia. Durante vinte e cinco anos foram ouvidos pais divorciados e respetivos filhos, experiência que foi relatada em livro sob o título A Herança Inesperada Do Divórcio.

A terapeuta que conduziu o estudo, Judith Wallerstein afirma que os filhos de casais divorciados tendem a ter uma maior dificuldade em encontrar o parceiro certo e em construir as suas relações. E este estudo vem relançar a polémica: devem os pais ficar juntos para não destruírem a futura personalidade da criança?

As opiniões dividem-se. Mesmo com a certeza de que não existem divórcios felizes para nenhuma das partes, várias vozes já se ergueram contra o princípio que o livro enuncia, afirmando que os casais não se devem manter juntos apenas pelos filhos, porque estes são precisamente os mais afetados por este tipo de situações, vivendo num permanente estado de ansiedade e pressão, para além de que os pais não conseguem dar todo o apoio e atenção às crianças quando se sentem infelizes.

O importante, em todos os casos, é que as crianças mantenham um relacionamento saudável com ambas as partes do casal após o divórcio, o que nem sempre é possível.

A separação deve ser comunicada aos filhos de forma natural, sem dramas e acima de tudo sem julgamentos de valor acerca de qualquer um dos parceiros, a menos que as próprias crianças tenham deparado com situações de violência ou abusos por parte de um dos pais.

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Créditos © 9dream Studio

 

O trauma da separação a dois

Há uma altura em que tem que dizer ‘Basta!’. A situação tornou-se insuportável, não há qualquer carinho entre os dois, e as discussões estão na ordem do dia. Nessa altura, a separação é o único caminho a seguir.

Há muito tempo que não falam, e quando o fazem apenas sabem discutir. Nenhum dos dois é capaz de dar esse passo, agarrados a um sonho ou a uma tradição, e as coisas têm tendência a continuarem sem, no entanto, terem motivos para tal. É o medo do arrependimento, da solidão, da falta daquela companhia, ainda que muda e fria, que a faz permanecer agarrada a essa situação. Continuar assim não vai adiantar e apenas vai ajudá-la a colocar ainda mais em baixo a pouca auto-estima e confiança que lhe restam!

Se, por um lado, a separação parece ser a única saída, a concretização desta resolução pode também não ser muito positiva , apenas numa primeira fase. Há um sentimento de perda no ar, a pessoa tem tendência a sentir-se muito só, e muitas são aquelas que julgam que era preferível a situação de uma união, ainda que insatisfeita, do que a atual. Independentemente dos motivos que levam duas pessoas a separarem-se é lógico que a situação de ruptura é sempre difícil para ambas as partes. Construir uma vida diferente, começar tudo do zero, encarar familiares e amigos é sempre difícil, mas antes de se pensar nos outros é conveniente pensar primeiro em si mesmo e no seu bem-estar.

Muitos casais optam por não se separar, mas acabam por levar uma vida completamente independente do seu companheiro. O hábito de viver com alguém e de sentir a presença de outra pessoa em casa, mesmo que quase nem dirijam a palavra um ao outro, parece ser por vezes mais importante do que a reconstrução de uma vida nova. O rompimento com o passado, momento da união a essa pessoa, é uma tarefa dolorosa, e quando há ainda um sentimento forte a decisão é ainda mais complicada.

Existem muitas pessoas que ao se separarem passam por uma fase muito difícil e traumática, isolando-se, e não aceitando o apoio de ninguém. Com tamanhas atitudes, as forças para reconstruir uma vida nova são muito mais escassas e o caminho parece ainda mais negro do que quando se encontrava numa situação de indecisão.
Os motivos mais comuns que permitem que as pessoas permaneçam juntas são, habitualmente, dois: questões monetárias e a existência de filhos. No primeiro caso as saídas parecem ser nulas. Não existe qualquer forma de subsistir na vida, julga a pessoa, a não ser que se regresse para a casa dos pais ou encontre apoio em alguns amigos. A dependência económica e a vida estável são os motivos que a fazem ainda continuar junta com essa pessoa, mesmo que suporte a facada do silêncio ou o travo ácido das discussões.

Os filhos, quando os mesmos são ainda novos, podem ser um dos motivos que façam com que o casal continue junto. Querem dar-lhe a estabilidade familiar merecida, com um pai e uma mãe sempre presentes, e assim vão deixando arrastar a situação. Qualquer uma delas pode ser tão longa que o casal pode ficar junto, pelo menos aparentemente, até à velhice.

Este medo da velhice pode ser ainda outro dos motivos que leva duas pessoas a dividirem o mesmo espaço, ainda que a vontade seja escassa. Julgando que não vão conseguir reconstruir a sua vida acabam por deixar arrastar a situação, mesmo que o sentimento que os une não passe de simples afeto.

Em qualquer uma destas situações a falta de força de vontade e o receio de ficar sozinha conseguem mesmo fazê-la mudar de ideias e deixar-se estar aprisionada a este género de relação, que apenas sobrevive a partir de uma conveniência mútua. A felicidade há muito tempo que ficou para trás, e agindo desta forma de certeza que não vai voltar a recuperá-la.

Não se deve ter receio de enfrentar uma nova vida! A pessoa tem que lutar pelo seu futuro, por uma melhor existência, não se deixando ir abaixo com problemas cuja solução está bem diante dos seus olhos. Qualquer que seja o motivo que a faz estar ainda a viver com essa pessoa, mesmo que a relação esteja quase destruída, deve-se pensar duas vezes se valerá realmente a pena.

Há mulheres que saíram de casa com pouco dinheiro, e que com alguma ajuda conseguiram afirmar-se novamente. Existem ainda outras que conseguiram perfeitamente cuidar dos seus filhos e dar-lhes uma vida bem mais harmoniosa do que aquela que possuíam antigamente. É tudo uma questão de força de vontade e de preservar sempre a sua auto estima. Lógico, que a ajuda de amigos e familiares desempenha aqui um papel importante. Se a relação não deu certo , certamente eles não vão desiludi-la. Errar é humano, e nas coisas do amor isso é ainda mais habitual!

Pensar bem naquilo que realmente se quer, meditar e refletir bastante. A decisão é importante demais para ser tomada a partir de um impulso. Tentar sempre sair da relação cultivando a amizade da outra pessoa, pois assim será mais fácil tratarem de tudo. Se tiverem filhos, uma separação amigável é o ideal para as crianças que não têm que estar a assistir a discussões, nem a sentirem-se motivos de brigas.

A dor e a mágoa que marcam uma separação são muito fortes, mas se é impossível manter esse relacionamento, independentemente das razões, a melhor solução é a separação. Por muito que custe naquele momento, esta é a saída mais racional e acertada para a pessoa e para todas as pessoas envolvidas!

A fase do divórcio

O diálogo deve sempre ser positivo, centrando-se no futuro e usando a verdade. Acima de tudo é necessário fazer perceber à criança ou ao jovem que não lhe cabem quaisquer culpas na separação e excluí-la sempre das questões pessoais.

Nesta fase as crianças e os pais vão estar mais vulneráveis, por isso a paciência e o respeito mútuo são conceitos que os pais não podem perder de vista.

É preciso também ter em atenção as reações das crianças face a esta nova situação, à qual reagem de formas diferentes que podem ir da tristeza à culpabilidade, medos infundados ou não, regressões na idade, agressividade, dificuldades de aprendizagem ou sintomas ainda mais graves, de doença.

E depois seguem-se as relações que mantêm com os progenitores, que podem passar por total abandono por parte destes a uma relação de hipocrisia em que se dá tudo o que a criança ou adolescente pede ou exige apenas para tentar superar uma falta.

Outro aspeto do divórcio que afeta profundamente as crianças e jovens é quando este toma proporções judiciais, especialmente quando as crianças têm menos de seis anos, em que se vêem arrastadas de tribunal para tribunal, a ouvirem em público os pecadinhos dos pais ou a esperarem que uma pessoa totalmente estranha decida sobre a sua custódia.

Decidir partir ou não para um divórcio tendo em conta os filhos é um erro muito comum dos pais, porque em vez de os protegerem de influências negativas estão apenas a proporcionar-lhes uma visão errada da vida em comum.

Cristina Fragata

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