Confinámos bem, desconfinámos mal
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Confinámos bem, desconfinámos mal

O Governo tem a responsabilidade de dizer a estrita verdade sobre os dados e conhecimentos que possuiu sobre tudo o que diz respeito à pandemia e de prestar contas, permanentemente, sobre os meios que coloca à disposição para a conter.

A responsabilidade dos cidadãos pressupõe a tomada de consciência de que a propagação da epidemia depende, em grande medida, da atitude de cada um, independentemente da idade ou de integrar ou não um dos grupos de risco. Estamos todos conectados, dependemos uns dos outros, será difícil a alguém viver numa “bolha” imune a um vírus que, como sabemos, não afeta todos por igual, mas que não deixa ninguém à prova de um putativo ataque. Estou tentado, mas resisto a comentar a festa do Avante. Limito-me a transcrever uma frase do brilhante artigo assinado pela jornalista São José Almeida, no jornal Público: “A pandemia está a revelar a superioridade imoral do PCP.”

Considero que o período de confinamento, durante o qual Portugal viveu sob as medidas do Estado de Emergência, foi bem conseguido, os resultados alcançados foram, inclusivamente, uma referência na senda internacional.
O desconfinamento não tem sido tão positivo, algo intermitente, têm-se sucedido erros, desde logo de comunicação, que têm impacto na comunidade. A forma triunfal como recebemos a indicação da escolha de Lisboa para receber a final da Champions é um exemplo claro de um “sabor a vitória”, de “somos os maiores”, quando, segundo os especialistas, poderemos estar apenas no início de um desafio sem dia e hora para terminar, com regras difusas, estratégias incertas, muitos “treinadores de bancada” e um golo, a vacina, que teima em não aparecer…
Estou preocupado com a possibilidade de ocorrer uma segunda vaga, mas o que mais me deixa apreensivo é a aparente impreparação para enfrentarmos o Outono/Inverno, algo que se tem adensado com a “guerra” desnecessária, inqualificável e inaceitável entre corporações e entre estas e o poder político. Os portugueses não merecem assistir, em prime time, aos últimos episódios que envolveram o Primeiro-ministro António Costa e o Bastonário dos Médicos Miguel de Guimarães.

Confinámos bem, desconfinámos mal - revista amar - portugal
Fotografia © Ante Hamersmit

 

Nesta pandemia, diz-nos Bernard Lévy: ”A primeira coisa que me impressionou foi a ascensão do «poder médico». Certamente não é novo. (…) A união dos poderes político e médico quase chegou a ser selada.” Quase… os últimos sinais dão nota de uma profunda desunião, algo que não é positivo para o cidadão. Não é positivo porque precisamos de todos, cada um no seu campo de ação, contribuído para uma ação coordenada e eficaz. Todos, médicos e políticos nos merecem o maior respeito. Exatamente por isso, meus senhores respeitem-se uns aos outros e respeite-nos também a nós.

Congratulo-me com a notícia foi avançada pela ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social ao jornal Eco, Ana Mendes Godinho revelou que a Segurança Social está disponível para financiar diretamente 18 equipas de emergência que apoiarão as instituições que apresentem casos de infeção por covid-19.

Por outro lado, sinto dificuldades em aceitar a ligeireza de António Costa ao sugerir que os desempregados do turismo poderão ser integrados no setor social. A ideia de reciclar e integrar os recursos humanos disponíveis parece-me ótima, especialmente se não virmos grande diferença entre tirar uma bica e dar um banho ou mudar uma fralda. A questão passa por duas dimensões, quem contratará e como pagará estas pessoas? Questões que poderão ser também colocadas ao senhor bastonário que defende, e bem (todos estamos de acordo com o princípio) a ideia de os lares terem nas suas equipas, além de médicos e enfermeiros, nutricionistas, farmacêuticos…

Vem também a propósito o programa que prevê mais 15 mil funcionários nas instituições do setor social até ao final do ano. Urge o reforço dos recursos humanos no setor social, especialmente nas organizações que gerem respostas sociais de apoio às pessoas idosas.

O programa prevê o pagamento de 90% do custo da contratação até ao fim de dezembro e depois, se ficarem no quadro, dá um prémio de dois salários mínimos. Às duas questões anteriormente colocadas, junto outras: a pandemia será superada até ao final do ano? Serão celebrados contratos por apenas por 4 meses? Qual será a justificação para a celebração destes contratos, o prazo do financiamento do Estado? Como assegurarão as instituições os salários dos novos colaboradores, em 2021, recebendo apenas dois salários mínimos? Serão revistos em alta os acordos de cooperação? Estaremos na eminência de assistirmos à aplicação de um paliativo após o diagnóstico de estado comatoso?

José Carreira

Obras Sociais Viseu

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