Contos e encantos de Sintra
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Contos e encantos de Sintra

É natural que a história nos reserve uma parte de si, porém a sua totalidade mantém-se em gostoso e desafiador segredo, cativando aquele que é tomado pelo desejo da busca, até esbarrar em outro trecho dos acontecimentos, trazendo mais claridade às páginas do saber, sobretudo se o caso referir-se a lugares tão especiais quão singelos, fazendo um imponente contraste ao rico universo de descobertas nele existente, como é o caso de Sintra, a delicada e poética cidade ao pé da serra que leva o seu mesmo nome, distante apenas 30 quilômetros da capital portuguesa, Lisboa.

Palácio da Pena – Sintra Armando Neto

Obras de renome e poemas de peso sempre afloraram diante das inspiradoras belezas do seu charme, seja pela natureza que a rodeia e lhe pinta artisticamente os contornos das ruas em tons verdes e coloridos, seja pela narrativa que descreve o vai e vem das pessoas, da construção dos prédios seculares aos comércios turísticos, tudo combina com Sintra, tudo a decora em refinada majestade e ao mesmo tempo em calma simplicidade por atraente visão bucólica que penetra à alma dos seus admiradores, mesmo os que ali transitam em rápidos passeios. O espírito é arrebatado ao sentir-se caminhando como se estivesse à época da cena que contempla.

Não é à toa que o escritor inglês Lord Byron (1788-1824), imprimiu os seus afetos ao compor “Sintra, glorioso Éden!”, parte do famoso poema ‘A peregrinação de Childe Harold’, cujas linhas — algumas, dentre tantas da obra –, foram escritas no Lawrence’s Hotel, o número 38 da rua Consiglieri Pedroso, a poucos passos do centro histórico (de 1764, afirma-se categoricamente ser o segundo hotel mais antigo da Europa), o mesmo sítio que acolheu outro enfeitiçado pela magia local, o escritor lusitano Eça de Queirós (1845-1900), tão romanticamente desenhado em sua obra Os Maias, com as personagens de D. Afonso, Pedro, Maria Monforte, Carlos Eduardo, Maria Eduarda, dentre outros. Nem o escritor infantil dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1875), de ‘O Patinho Feio’, ‘O Soldadinho de Chumbo’ ou ‘A Pequena Sereia’, escapou aos doces apelos de Sintra, permanecendo algum tempo na residência de José O’Neill, em 1866, na Calçada dos Clérigos, 9-A — “Custou-me separar-me do meu caro e generoso amigo José e de toda beleza de Sintra.”, lamentou o célebre autor ao despedir-se.

Mas a população também escreveu, a duras penas, aventureira e dramática passagem nas páginas da recordação, pois alguns heróis surgidos na emergência novelesca tomaram a dianteira e salvaram crucifixos, vestes, esculturas, ostensórios, livros litúrgicos e relicários da Igreja Paroquial de São Martinho (fundada no século XII, pelo rei D. Afonso Henriques) levando-os para as suas casas, antes que os franceses o fizessem durante a invasão napoleônica ocorrida em 1807, sob as ordens do Comandante Jean-Andoche Junot, o 1.° Duque de Abrantes. Muitos tesouros não tiveram a mesma sorte…

Ah! São contos vivos que ainda ecoam por Sintra, nos corredores dos andares do pequeno museu da paróquia, ou no alto, entre os sinos do campanário, de onde se vê a paisagem deslumbrante, inclusive a Quinta da Regaleira (a escassez de documentação a situa no século XVIII e não no décimo sétimo, conforme empolgantes suposições descritivas), cujas construções enigmáticas espelham símbolos e rituais da maçonaria portuguesa, tal como o Poço Iniciático, uma torre construída no subsolo, de escadaria circular, que, ao final, dá acesso aos túneis subterrâneos que alcançam os jardins – nascimento e morte, e renascimento, da escuridão à luz e à beleza…

Tudo em Sintra! Mas vale lembrar que bem pouco esteve compreendido aqui, há muito, muitíssimo a contar, o castelo, os palácios, outras igrejas, as vielas, o comércio, a comida, enfim, os contos e os encantos em cada passo dado no chão carregado de histórias e fortes emoções, além dos segredos que ficam à espera de quem ousa levantar-lhes o véu do esquecimento…

Armando Correa de Siqueira Neto

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