Lucky Lion - A HISTÓRIA DE UM DOS PRIMEIROS E MAIS FAMOSOS MONUMENTOS DE TORONTO
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Lucky Lion – A HISTÓRIA DE UM DOS PRIMEIROS E MAIS FAMOSOS MONUMENTOS DE TORONTO

 

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A HISTÓRIA DE UM DOS PRIMEIROS E MAIS FAMOSOS MONUMENTOS DE TORONTO

A cidade de Toronto está em constante transformação urbana e muitos poderão esquecer pontos de referência que marcaram épocas, para uns, parte do passado, para outros, memórias que continuam bem vivas na sua mente.
Seja pela importância cultural ou histórica, ou simplesmente porque marcou uma geração, vale sempre a pena conhecer um pouco mais desse passado que se vai entrelaçando com o presente, preparando o futuro de amanhã.
Este é um desses exemplos.
Foi um dos mais famosos monumentos nos primórdios de Toronto – tão bem conhecido dos locais que muitos simplesmente o apelidavam de “O Monumento”. Foi erguido em 1939, nos primeiros dias da Segunda Guerra Mundial, para comemorar a mais nova estrada da cidade – a bela Queen Elizabeth Way estender-se-ia desde o rio Humber, em torno da curva do Lago Ontário, até Niagara Falls. A própria rainha Elizabeth, a rainha-mãe, veio para a inauguração naquele verão, acompanhando na visita o marido, o rei George VI. (Ela era a mãe da rainha Elizabeth II, melhor lembrada nos dias de hoje como a Rainha Mãe.)
Aquela foi a primeira vez que um monarca reinante visitou o Canadá, uma maneira de reunir o Império à medida que a guerra com os nazis se aproximava.
E assim, o novo monumento não só comemorava a nova estrada, mas também comemorava a visita real e o papel do Canadá na Segunda Guerra Mundial. Uma coluna alta iria permanecer na entrada da QEW, pela foz do rio Humber, encimada por uma coroa. Um relevo iria retratar o Rei George e a rainha. E na base da coluna, haveria um leão esculpido por um dos escultores mais famosos e respeitados de Toronto: Frances Loring.
Loring e a sua parceira ao longo da vida, Florence Wyle, vieram para Toronto no início de 1900. Ambas tinham nascido nos Estados Unidos e dividiam um estúdio em Greenwich Village. Carinhosamente conhecidas como “As Meninas”, foram dois dos escultores mais importantes e respeitados do Canadá da época.

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Por altura da abertura da QEW, Loring e Wyle já eram bem conhecidas pelo seu trabalho relacionado com a guerra. Durante a Primeira Guerra Mundial, elas tinham recebido comissões para produzir uma série de estátuas sobre os trabalhadores em frente à casa. Essas esculturas tornaram-nas famosas. Desde então, Wyle tinha se concentrado em pequenas peças, enquanto que Loring desenvolveu um gosto por um trabalho de maior dimensão.
Loring foi uma escolha óbvia para o leão que iria sentar-se na base da coluna na QEW, com Wyle a ser escolhida para esculpir o trabalho em relevo (mais pequeno) do rei e da rainha.
O leão foi uma das peças mais difíceis que Loring jamais iria produzir. O trabalho veio com rigorosos requisitos, nacionalistas. O calcário teria de vir de uma pedreira canadiana mesmo que fosse de uma menor qualidade. E isso foi apenas o começo dos problemas. Seria necessário um “stone carver” para concluir o projeto de Loring, mas cada “stone carver” sugerido por ela seria rejeitado. Todos eles tinham um passado italiano ou alemão; para alguns funcionários do governo canadiano, eles eram o inimigo. No final, Loring teve que contentar-se com um inglês com quem nunca tinha trabalhado antes – e que se ressentia por aceitar ordens de uma mulher.
Finalmente, quando ela descobriu que o “stone carver” tinha feito uma alteração ao projeto do seu leão sem a sua permissão, Loring demitiu-o no local. Ela própria iria completar o trabalho, apesar do fato de que ela nunca tinha feito antes um trabalho de pedra nessa escala.
Apesar dos obstáculos, quando o trabalho de Loring foi finalmente concluído, foi visto como um triunfo. O escultor tinha produzido um belo e estilizado leão, emergindo de uma posição reclinada, rosnando e desafiante, pronto para enfrentar a ameaça nazista e as agruras brutais da Segunda Guerra Mundial. Loring foi elogiada pela sua mestria artística: “um equilíbrio de tensão que pode sentir-se correr desde as poderosas patas à cauda”. O grande felino foi saudado como “uma das melhores peças de escultura ao ar livre no Canadá” e “a melhor peça de escultura arquitetónica no país”.
Um símbolo da Grã-Bretanha, o assentado foi concebido para evocar desafio e resistência em face do iminente conflito e a inscrição ecoava esse sentimento: “A Queen Elizabeth Way foi inaugurada pelo rei e pela rainha em junho de 1939, assinalando a primeira visita de um soberano reinante a um domínio irmão do império. A coragem e resolução de suas majestades na realização da visita real em face da iminente guerra inspirou as pessoas desta província para concluir este trabalho, no período mais sombrio do império, na plena confiança de vitória e uma paz duradoura.”
O Leão tornou-se um ponto de referência para os Torontenses. Era impossível perder aquela visão, quando as pessoas circulavam ao longo da margem do lago, dentro e fora do coração da cidade. As crianças ficavam particularmente encantadas com a besta de pedra, observando o grande felino quando os pais conduziam ao longo da estrada. Chamavam-lhe o Lucky Lion. Era uma parte poderosa de imaginação do público da cidade.
Mas depois veio a Gardiner Expressway. Vinte anos após a abertura da QEW, a nova autoestrada ao longo da margem do lago cortou uma área através de alguns dos mais famosos marcos históricos de Toronto. O antigo Dufferin Gate na CNE foi demolido. Como foi a maior parte do parque de diversões Sunnyside. O South Parkdale desapareceu. O Fort York mal escapou. E com a nova estrada e uma população em expansão a levar mais e mais tráfego automóvel para a QEW, a antiga autoestrada teria de ser expandida. Em 1974, foi alargada para doze vias de circulação. A ilha onde o monumento se encontrava foi removida. O plano indicava que o Leão seria demolido.
Em resposta, houve uma manifestação de apoio público ao monumento. Os Torontenses amavam o seu Leão. No final, o governo cedeu e prometeu salvá-lo. Mas muitos esperavam mais do que isso: eles não só queriam o Leão poupado, mas que lhe fosse dada uma nova casa onde permaneceria uma parte importante da consciência cultural de Toronto.
No final, houve um compromisso: o monumento foi deslocado para um local nas proximidades do [Sir] Casimir Gzowksi Park à beira-lago. A peça de arte sobreviveu, mas a sua importância diminuiu bastante.

Por: Cabral de Jesus

Fotos: Direitos Reservados

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