Page 9 - Revista Amat - Edição Online - Fevereiro 2016
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“Pedro e Inês,
seguiram pela noite fora,
sem pressa para se perderem.”
como era essa nova mulher. riu-se sozinha, quando caíu nela – Scotch & Soda, a marca de
Quando a rapariga de cabelos azeviche a abordou, sorriu sem roupa, como se tivesse agora idade para se vestir como uma
saber o que lhe dizer. teenager!
- O que pode fazer por mim? – questiona-a a experimenta-la, Ainda sorria, quando ele a interrompeu.
para se certificar até onde pode ir. - Dá-me licença que me sente? – Para isto é que não se tinha
- Pretende pintar, mudar o corte? Tem alguma ideia do que de- preparado. Não fosse a chuva, não teria entrado. Humm... In-
seja mudar? – acercou-se a rapariga, por detrás dela, olhando- teressante, pensou. Contudo, giro. Acho que já vi esta cara em
-a através do espelho, com as mãos apoiadas nos seus ombros. qualquer lado... mas onde?
- Tudo. Quero mudar tudo. Sabe o que quero mesmo? Que me Ele acomodou-se. À medida que a conversa ía desfiando, ele
transforme no que os seus olhos me vêem. acomodou-se a ela, ao rosto dela, como se fosse lume. Ela mui-
Mal proferiu estas palavras, arrependeu-se logo. Cuidado com to vaga, escutava-o. Um homem mais novo, directo, educado;
o que pedes! – pensou. Afinal, a miúda não devia ter mais de 25 contudo, a gravata denunciava-o fora do seu ambiente. Um se-
anos, metade da idade dela. Só queria sentir-se outra. rão simpático, ideal para quem está só há tanto tempo.
Quando de lá saíu, era de facto outra. Os cabelos tinham ga- Já a madrugada começara, ele pagou as bebidas. Despediram-
nho ondas rebeldes, tão rebeldes como a tempestade que a -se com um até à próxima. Há saída, ele quis-lhe saber o nome.
atravessava. Mesmo assim, não estava capaz de voltar já para - Inês. E o seu?
casa, fechar-se, esconder-se. Por muito tempo, não sentira - Pedro – disse-lhe, entregando-lhe um cartão profissional.
uma vontade tão gritante de se revelar, exibir. - Pedro Corte-Real ; repetiu ela baixinho, com os olhos no car-
Calcorreou a Baixa a pé, comeu sushi junto à estação do me- tão. Você é o...
tro, mesmo em frente ao cabeleireiro, visitou galerias, alfarra- Ele riu complacente; - Sim, o tal. O que vai à televisão.
bistas. Entrou em sítios diferentes só para saber como seria. A Inês olhou bem nos olhos escuros de Pedro, ofereceu-lhe o
noite adiantou-se-lhe rapidamente. Sentia que já tinha passa- braço.
do há muito das horas decentes e seguras. O que quer que isso - Sabe Pedro, a noite ficou fria de repente. E está mesmo ape-
fosse, ninguém a esperava em casa... Foi descendo a Rua do tecível estar à lareira. Venha, conheço o sítio ideal para nos
Alecrim a caminho do Cais do Sodré, aquermos.
A chuva trazida pela súbita ventania, fê-la entrar num desses Recomeçara a chover. Pedro e Inês, seguiram
bares que não se aventuraria nunca a entrar por iniciativa pró- pela noite fora, sem pressa para se perderem.
pria. Pensão Amor. Se era! Os tons vermelhos e a decoração Não foram lenda; nem ela não chegou a
Deco, os reposteiros de veludo azul celeste, pinturas no tecto raínha. A vida encetou novas rotinas; o
de deuses eróticos, estatuetas de mulheres semi-nuas – como tempo – mater e mestre, comprovou que
se fora um bordel do século XIX ! As mesas estavam povoadas a história é cíclica. Com os anos, Inês
dessa geração de candidatos a artistas, sentados em cadeirões metamorfoseou-se tantas vezes, que se
de veludo verde. Homens mais velhos, aqui e alí, ao balcão. transformou num camaleão.
Pediu um scotch & soda – não estava habituada a beber; depois
Maria João Rafael
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